Educação 5.0: ferramenta de transformação social

Neste segundo artigo do Especial Educação 5.0 conversamos com Adriene Sttéfane Silva. A Coordenadora do Núcleo de Educação a Distância do Centro Universitário de Patos de Minas (UNIPAM) reforça a tese de que esse conceito precisa ser utilizado como uma metodologia para o desenvolvimento de um processo de ensino-aprendizagem mais humano, trazendo o socioemocional como foco prioritário.  

Para ela, a Educação 5.0 foi uma evolução extraordinária, em relação à 4.0, tornando-se uma “ferramenta produtiva, que pode e deve criar soluções relevantes para a comunidade como um todo”. Confira os trechos mais importantes da entrevista para o Blog da Minha Biblioteca.

MB – Como se chegou ao conceito da Educação 5.0? 

Adriene Sttéfane Silva – A Educação 4.0 surgiu para atender as necessidades da indústria 4.0, que trouxe para o dia a dia das pessoas a inteligência artificial, a realidade aumentada, realidade virtual, IOT, enfim aquilo que era restrito aos centros tecnológicos e tornou-se cotidiano para atender essa demanda de formações profissionais. 

Ela evoluiu para a Educação 5.0 porque, diferente da indústria, a educação tem muito mais um fator de impacto na sociedade. Não é só formar profissionais de tecnologias, mas também cidadãos. Dentro desse contexto, ela traz uma força ligada ao desenvolvimento individual e coletivo, no que tange ao controle das emoções, a motivação, a saúde emocional, reforçando o lado totalmente humano que, muitas vezes, nós desprezamos.

É um avanço extraordinário, na medida em que pode conciliar toda a questão da inteligência emocional e, consequentemente, do desenvolvimento de tarefas mentais mais complexas, que eram exigidos na Educação 4.0, enquanto apenas mediação tecnológica ou pedagógica de recursos tecnológicos.

MB – Quais as diferenças entre elas que você destaca e considera mais importantes?

Adriene Sttéfane Silva – A Educação 5.0 é uma evolução em relação ao conceito anterior. Ela traz novas demandas para além do uso da tecnologia. 

A Educação 5.0 exige competências e habilidades socioemocionais profundas, distintas do que se esperava na anterior. Nesse sentido, essas características entram no contexto educacional exigindo dos indivíduos a capacidade de usar a tecnologia, mas não só de instrumentalizá-la. É preciso utilizá-las como importante ferramenta de desenvolvimento social e  produtiva, criando soluções relevantes para a comunidade como um todo. 

MB – Então, em tese, a Educação 5.0 é o uso das novas tecnologias para proporcionar um ensino mais humano e na geração de soluções que melhorem a vida de todos? 

Adriene Sttéfane Silva – Sim, eu concordo com este conceito de Educação 5.0 como uma ferramenta para o desenvolvimento de um processo de ensino-aprendizagem mais humano, tendo o socioemocional como foco do processo. Mas, para além disso, eu acredito que a Educação 5.0 traz aí um paradigma muito disruptivo, no que tange aos processos coletivos. 

Depois da pandemia, percebemos que os jovens ficaram com uma grande dificuldade no relacionamento interpessoal e, nesse contexto, a 5.0 corrobora, não só com a o desenvolvimento dessas novas soft skills, mas também das relações interpessoais dessa geração em busca de causas coletivas. Isso torna-se um conceito bastante apropriado dentro daquilo que se considera uma educação colaborativa, de fato formativa.

MB – Há outros benefícios da Educação 5.0 que você destacaria?

Adriene Sttéfane Silva – Para além das contribuições que já mencionamos tais como o crescimento de habilidades relativas à utilização das tecnologias para o bem comum, ao uso de forma mais saudável e produtiva, bem como o desenvolvimento de habilidades socioemocionais, a Educação 5.0 busca entender o impacto da tecnologia no cérebro humano e, consequentemente, a forma como nós aprendemos na atualidade. Talvez essa também seja uma das principais contribuições, afinal de contas, pela primeira vez, nós temos de fato um olhar mais profundo acerca do uso das tecnologias, como isso impacta dentro do cérebro humano e como pode ser potencializado nos processos, não só de ensino e aprendizagem, mas no desenvolvimento de cidadãos aptos a viver em coletividade utilizando tecnologias de forma saudável.

MB – Como preparar docentes e instituições para esse novo conceito, na sua visão? 

Adriene Sttéfane Silva – Talvez esse seja hoje um dos principais desafios, dentro do ensino superior. Mas, na verdade, a formação docente sempre foi um desafio, né? 

No que se refere ao preparar a docência para a Educação 5.0, eu ainda gosto muito de dois conceitos que são trabalhados pelo Moran (José Manuel Moran – filósofo, professor e pesquisador), que são: mediação tecnológica e o de mediação pedagógica. 

A pedagógica é inerente aos processos de ensino-aprendizagem na docência, independentemente de qual base epistemológica se tem como pilar.  A tecnológica reforça como instrumentalizar as tecnologias para potencializar esses processos. Isto é, não utilizar métodos anacrônicos via novas ferramentas. Dentro desse contexto, penso que a base para o desenvolvimento profissional do docente, para trabalhar com a Educação 5.0, deve perpassar, a priori, por esses dois conceitos e, para além disso, a compreensão acerca do desafio de competências e habilidades socioemocionais. 

É preciso compreender as necessidades sociais inerentes ao perfil geracional dessa sociedade pós-pandêmica e é muito importante que seja desenvolvido cotidianamente dentro da formação dos educadores. E, claro, não só nos currículos de formação dos professores, mas também por meio da capacitação continuada.

MB – Você acha que as IES já aplicam a Educação 5.0 ou ainda há um longo caminho a percorrer?  

Adriene Sttéfane Silva – Creio que ainda está em processo de desenvolvimento dentro das IES. O que se percebe é que muitas vezes as instituições, de forma instintiva, buscam soluções que estão muito alinhadas com o processo da Educação 5.0. Eu enxergo, em muitas IES brasileiras, a tendência e o olhar voltados para o desenvolvimento e o cuidado com o socioemocional dos seus alunos. Sobretudo, devido a essa demanda e esse retorno à presencialidade. 

Percebo também, inclusive aqui no Centro Universitário de Patos de Minas, o fomento de práticas pedagógicas e projetos integradores que tendem a estimular tais competências. Nesse sentido, essas metodologias se mostram como um espaço efetivo no currículo dos cursos de graduação para o desenvolvimento dessas habilidades. 

Seja por meio de projetos que transpõem teoria e prática dentro da comunidade, atendendo às suas dores, seja nos projetos intercursos onde os estudantes são provocados a trabalhar em conjunto com cursos totalmente distintos de áreas: pedagogia com engenharias, por exemplo, enfim, provocando a habilidade do trabalho em grupo, que também é um desafio para essa geração.

Nesse sentido, percebo que a Educação 5.0 tende a ser incorporada nas IES, mas há de se ter um esforço coletivo e uma estratégia pedagógica efetiva para que sejam, de fato, atendidas essas novas demandas impostas por ela.

MB – Como você definiria o perfil do Educador 5.0? 

Adriene Sttéfane Silva – É interessante pensar nisso, porque quando  refletimos no que é o perfil desejável do educador 5.0, pensamos que deve ser o professor que dispõe de métodos inovadores, que utiliza recursos para tornar as aulas mais participativas, estimulantes, produtivas e é o bom perfil de qualquer professor, concorda?

Então, inerente ao ser professor, essas habilidades do educador 5.0 já estão no cerne da formação docente. Nesse caso, tem ainda uma procura no que se refere ao domínio das novas tecnologias, bem como mediação desses recursos dentro do ambiente de sala de aula. 

Porque, na verdade, o interesse em estar sempre atualizado, a facilidade de comunicação, a capacidade de incentivar as habilidades dos estudantes, elas são a formação do professor em si! Talvez o grande diferencial do educador 5.0 seja o domínio da tecnologia e, consequentemente, o saber estimular o desenvolvimento de habilidades socioemocionais e reforçar competências como ética, empatia, autoconhecimento, o protagonismo e autonomia do aluno.

MB – Qual o papel de uma plataforma de gestão educacional no conceito 5.0?

Adriene Sttéfane Silva – Sem dúvida alguma, a plataforma de gestão educacional tende a contribuir efetivamente para os processos de ensino e aprendizagem no contexto da Educação 5.0. Já na 4.0, percebemos que a utilização dessas ferramentas gera um grande volume de dados. A partir do momento que na 5.0 o educador consegue fazer a leitura desses dados e extrair informações dos seus estudantes, ele pode desenvolver a aula e planos de atividade cada vez mais personalizados, resolvendo gaps de processos de ensino-aprendizagem, de forma mais personalizada. 

Portanto, essas plataformas de gestão educacional perpassam, não só para o design instrucional, mas também como uma ferramenta de grande valia dentro do processo de compreender as demandas estudantes no sentido de promover um ensino mais significativo.

“As bibliotecas digitais corroboram com a democratização da educação. Os alunos têm na palma da mão, em qualquer dia, em qualquer horário, acesso a uma gama de informações, de materiais que contribuem com o processo de ensino e aprendizagem”

MB – Como você avalia o uso da tecnologia na educação, como realidade virtual e metodologias ativa, por exemplo

Adriene Sttéfane Silva – O uso traz um novo arcabouço de possibilidades para a educação. Para além disso, essas tecnologias já são nativas do perfil geracional dos estudantes que nós temos na atualidade. 

Muitas vezes o que me preocupa é realmente a mediação tecnológica de tais ferramentas. A partir do momento que se tem a incorporação de novas tecnologias dentro do processo de ensino e aprendizagem, há de se pensar também novas possibilidades de utilização de tais tecnologias em prol desse processo atendendo, é claro, a formação de novos profissionais e, também, de cidadãos que estejam aptos a viver dentro da sociedade.

MB – E como enxerga as bibliotecas digitais neste contexto? 

Adriene Sttéfane Silva – As bibliotecas digitais na Educação 5.0 são extremamente relevantes, à medida em que proporcionam o acesso a uma gama de informações a qualquer momento e em qualquer lugar. É muito importante que se compreenda que as elas corroboram com um processo intenso que nós temos hoje, que é o ensino híbrido.

É o estar presente, mesmo estando à distância. Nesse sentido, as bibliotecas digitais reforçam a democratização da educação. Os estudantes têm na palma da mão as informações e materiais necessários para o processo de aprendizagem.

MB – Como você descreveria a relação entre Educação 5.0 e uma sociedade 5.0? Este parâmetro é viável já em 2022?

Adriene Sttéfane Silva – As mudanças no cenário educacional sempre ocorrem para atender os anseios da sociedade, assim como a educação 4.0 surgiu para atender a indústria 4.0, a Educação 5.0 está alinhada com as demandas da sociedade 5.0.  Esse conceito ainda é ainda muito recente. Ele surge no Japão em 2016 e tem como principal objetivo utilizar a tecnologia como forma de melhoria contínua da qualidade de vida das pessoas. 

Nesse contexto, o uso da robótica, da inteligência artificial, tende a fazer parte do cotidiano das pessoas, no sentido de melhorar a condição de vida dos indivíduos, tornando-a menos estressante e mais saudável. 

Hoje, em 2022, o que percebemos é a incorporação dessas tecnologias no dia a dia com os celulares, as casas inteligentes, mas, na educação, está sendo introduzida de forma muito incipiente. O sonho da sociedade 5.0 não está efetivo ainda, sobretudo no Brasil.

MB – Quais as perspectivas para a Educação nesse pós-pandemia? 

Adriene Sttéfane Silva – Sem dúvidas, a pandemia alterou diversas relações na sociedade, especialmente na educação. Algumas mudanças surgiram nesse período difícil para todo mundo e tendem a ficar nas Instituições de Ensino Superior, sobretudo o ensino híbrido. Houve uma quebra de paradigma, com um maior número de matriculados em cursos à distância do que presenciais. Isso, sem dúvida, reforça a necessidade da incorporação de novas tecnologias dentro do processo de ensino e aprendizagem e, também, de uma melhor gestão do processo educacional. 

Mas, por outro lado, a gente percebe que algumas questões como o viver em sociedade, o estar presente, a necessidade de ações coletivas, também se sobressaíram dentro da pandemia. Sendo assim, novos formatos como o ensino híbrido, a educação a distância, o ensino via novas tecnologias, foram reforçados, mas sem perder a necessidade dos discentes e professores estarem em conexão. Como disse, é o estar presente mesmo estando à distância ou, ainda, o desenvolvimento de ações coletivas, reforçando esse viver em sociedade.

* Leia, também, o primeiro artigo do Especial Educação 5.0, com a entrevista de Fernanda Furuno, fundadora do Ecossistema Simplifica Edtechs e Community Manager na Layers.

*A opinião do entrevistado (a) não expressa, necessariamente, o posicionamento do Blog da Minha Biblioteca.

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