EDUCAÇÃO 5.0: tendência ou realidade?

Além do uso mais amplo da tecnologia, o que se evidenciou nos últimos anos foi a necessidade de preparar os seres humanos para um mundo de adversidades.  E, neste contexto, se passou a acentuar a percepção de que pessoas com inteligência emocional são capazes de usar as ferramentas digitais para algo maior: uma transformação social.

A Educação 5.0 reflete justamente esta constatação. Aos poucos, o conceito deixa de ser tendência e ganha defensores a favor da aplicação de tecnologias como Inteligência Artificial, Internet das Coisas (IoT) e Processamento de Dados, para proporcionar um ensino mais humano, direcionado para o desenvolvimento socioemocional dos estudantes e soluções que melhorem a vida em sociedade. 

É para avaliar este propósito da Educação 5.0, no universo do ensino-aprendizado, que o BLOG da Minha Biblioteca traz duas entrevistas sobre o tema. A primeira convidada é Fernanda Furuno, fundadora do Ecossistema Simplifica Edtechs e Community Manager na Layers.

Especialista em estratégias de gestão e na implementação de programas relacionados ao uso da tecnologia, sempre vinculando educação à inovação, Fernanda destaca que um dos principais benefícios da Educação 5.0 é “aplicar desafios e propostas que levem os estudantes, de fato, a associarem seu aprendizado à solução de problemas reais. E que esses projetos possam ser aplicáveis e pragmáticos”.

MB – Na Educação 4.0 a ideia principal era inserir as tecnologias como Internet das Coisas, Inteligência Artificial, Machine Learning e Gamificação, no aprendizado e nas instituições de ensino. Como e por quais razões este conceito evoluiu e chegou à Educação 5.0? 

Fernanda Furuno – O destaque da Educação 5.0 é estar mais direcionada em como aplicar as competências e habilidades adquiridas com maior intensidade na fase 4.0, em benefício ao seu entorno, às causas sociais, ao meio ambiente. Foi influenciada pelo conceito de Sociedade 5.0, que teve seu início no Japão, com o ideal de formar uma sociedade mais inteligente, utilizando as ferramentas de inovação tecnológica a favor do bem-estar do ser humano.

MB – Quais as diferenças da Educação 4.0 para a 5.0? Pode destacar as que considera mais importantes?

Fernanda Furuno – Assim como em outros setores, indústria e sociedade, a Educação 5.0 não é “institucionalizada”, ou seja, todas as instituições ainda não chegaram nessa “geração”, mas há uma forte tendência de inclusão do desenvolvimento socioemocional (por meio de tecnologias digitais ou não) em todas as esferas educacionais – básico, fundamental, médio, superior e até no corporativo – o que impacta e estimula a melhoria do ser humano em aspectos que, integrados ao uso e ao próprio desenvolvimento consciente da tecnologia, geram muito mais valor para a sociedade.

MB – Neste cenário, como você avalia o atual momento nesta ativação das novas tecnologias, para proporcionar um ensino mais humano, com foco no desenvolvimento socioemocional dos estudantes?

Fernanda Furuno – Muito se fala sobre como tornar os humanos mais tecnológicos e, na mesma proporção agora, como tornar as máquinas mais humanizadas. Mas fazer chegar à sensibilidade total humana às máquinas, ainda é algo que eu enxergo muito na ficção científica. Fico impressionada em perceber que muita gente que se relaciona com os assistentes virtuais como “melhores amigos” e que, infelizmente, se relacionam muito mal com as pessoas do seu entorno.  E aí que está o gap que precisamos melhorar.

MB – Quais os principais benefícios da Educação 5.0?

Fernanda Furuno – Aplicar desafios e propostas que levem os estudantes, de fato, a associarem seu aprendizado à solução de problemas reais. E que esses projetos possam ser aplicáveis e pragmáticos.

MB – Como preparar docentes e instituições para este novo cenário? 

Fernanda Furuno – Desenvolver atividades abordando problemas reais, com estas perspectivas, muitos professores já fazem. É importante que estejam presentes nos planos de aulas, seja qual for a modalidade e nível, incentivando o uso de recursos tecnológicos para gerar experiência, otimizar, registrar e mediar pesquisa entre outros aspectos.

MB – Na prática, hoje as IES já aplicam a Educação 5.0 ou ainda há muito a fazer?  

Fernanda Furuno – No Ensino Superior, a institucionalização da curricularização da extensão é a melhor oportunidade de se iniciar esse movimento, envolvendo a comunidade acadêmica e o seu entorno. Muitas instituições já faziam isso, mas não de forma sistematizada e formalizada. 

MB – Qual o perfil do Educador 5.0? 

Fernanda Furuno – Os professores estão passando pela transformação digital e precisam ser essencialmente empáticos, adequando suas propostas de acordo com a realidade de seus alunos, e necessitam seguir algumas características importantes:

– Serem adeptos a metodologias que privilegiam a prática contextualizada com a teoria;

– Utilizarem a criatividade e incentivarem os estudantes também para resolução de projetos e problemas;

– Terem inteligência emocional e estarem capacitados para desenvolverem as competências socioemocionais, tão necessárias atualmente nos alunos; 

– Manterem constante incremento da sua fluência digital, para uso pessoal e profissional.

Acredito que vale conhecer um amplo material (link no final da entrevista*), onde os docentes são envolvidos a darem suas colaborações bem pautadas em suas vivências reais.

MB – Pensando no conceito 5.0, qual o papel de uma plataforma de gestão educacional?

Fernanda Furuno – No caso da gestão, as plataformas que privilegiam a organização e a inteligência de dados podem fornecer dashboards com indicadores para tomadas de decisão estratégicas e criar rotinas automatizadas poupando o esforço operacional, com a máxima agilidade. Elas podem ser integradas a outras soluções que complementam recursos e funcionalidades.

“Durante o isolamento até os mais resistentes alunos, professores, gestores e instituições perceberam o potencial que tinham em explorar as tecnologias, desenvolver habilidades e competências e investir nas soluções digitais”

MB – Como você avalia o uso da tecnologia na Educação, pensando em ensino híbrido, realidade aumentada e metodologias ativas? 

Fernanda Furuno – Algo que será cada vez mais difundido e naturalmente absorvido, à medida que se tornam mais aplicadas, divulgadas e acessíveis. 

MB – E como as bibliotecas digitais se inserem neste contexto e podem impulsionar a aprendizagem?  

Fernanda Furuno – A base de conhecimento precisa ser sólida para que bons projetos se consolidem. O acesso a um acervo virtual e a fundamentação teórica, em qualquer momento e a qualquer tempo, com sua multidisciplinaridade disponível de forma previamente categorizada, são essenciais para todo e qualquer projeto a ser desenvolvido.

MB – Você tem atuado em atividades estratégicas de gestão e implementando programas relacionados ao uso da tecnologia, sempre vinculando Educação à inovação. Como definiria as dores e demandas do mercado educacional hoje? Há mais mudanças ou avanços? 

Fernanda Furuno – Fiz uma migração estratégica, depois de atuar na área de gestão acadêmica em instituições de ensino por 20 anos, e estou há 6 anos no mercado de edtechs, com as mais variadas soluções educacionais. Essa visão 360° e minha atual função estão diretamente ligadas para conectar soluções às mais variadas dores, que classifico nos mais diversos níveis, desde as necessidades de ferramentas básicas de gestão até a de soluções digitais imersivas em contextos mais complexos. E por esse motivo a área de TI continua e está cada vez mais aquecida. 

MB – Você citou num artigo uma pesquisa de 2020, da Consultoria McKinsey, que apontava as principais tendências e oportunidades para o mercado educacional do Brasil, de forma a atender um gap do Ensino Superior, como Ensino a Distância; Lifelong Learning; Youtube e Soft Skills. Elas aconteceram? 

Fernanda Furuno – Em uma reportagem da Revista Pequenas Empresas, Grandes Negócios** é citado que “dados divulgados pela Jucesp (Junta Comercial do Estado de São Paulo), nos últimos oito meses, foram abertas 6.462 empresas na área da Educação. Em igual período anterior, de agosto de 2020 a abril de 2021, o número registrado foi de 5.726 empreendimentos, aumento de 12,8%”.

Imaginem, esses números são só de São Paulo. Desta forma, creio que as principais tendências e oportunidades no mercado educacional do Brasil se concretizaram com certeza. Em 2022, o EaD recebeu mais alunos que o presencial no Ensino Superior, confirmando uma projeção atualizada em junho/20 publicada no Valor Econômico – “A expectativa era que o volume de alunos em cursos on-line superasse a quantidade de matriculados no modelo presencial em 2023, mas esse movimento será antecipado em um ano, ou seja, deve ocorrer em 2022, segundo projeções da consultoria Educa Insights”. Durante o isolamento até os mais resistentes alunos, professores, gestores e instituições perceberam o potencial que tinham em explorar as tecnologias, desenvolver habilidades e competências e investir nas soluções digitais.

E voltando à Educação 5.0, em muitos dos produtos e serviços que foram lançados, a conexão das competências socioemocionais está diretamente ligada ao seu desenvolvimento. Quem esteve, este ano, no evento BETT Educar, pôde perceber essa tendência.

MB – Você acredita que existe um abismo que separa os ensinos público e o privado e que nosso modelo educacional precisa de atenção? 

Fernanda Furuno – Não tenho como afirmar esse abismo, mas o isolamento social ressaltou muitas diferenças, impactando toda a sociedade. Houve um movimento das políticas públicas para projetos que dessem suporte educacional nesse período? Atenção? Sempre! Cada geração que surge já chega inserida nesse mundo em transformação e os modelos educacionais devem se adaptar para que possam receber essas gerações.

MB – Como você descreveria a relação entre Educação 5.0 e uma sociedade 5.0? Este parâmetro é viável já em 2022?

Fernanda Furuno – De forma bem segmentada e particular, estamos aos poucos preparando uma geração mais consciente e o resultado será gradativo. O Japão, que iniciou o discurso da sociedade 5.0, tem investido numa cidade inteligente. Mas a institucionalização do 5.0 não se aplica a todos. Muitos – sociedade, empresas, setores produtivos, instituições, profissionais, cidadãos – ainda se encontram no 2.0; 3.0 e se transformando para a 4.0.

MB – As recentes mudanças nas IES vieram para ficar? Quais as perspectivas para a Educação pós-pandemia, pensando neste momento e num futuro breve?

Fernanda Furuno – Sem dúvidas, eu acredito que os últimos dois anos movimentaram muito o setor educacional, em virtude do isolamento social e fechamento das instituições de ensino – não só no Brasil, mas como no mundo todo. A tecnologia era um dos únicos recursos que possibilitou a continuidade das aulas e agora, com o retorno, percebo que estamos “passando uma peneira” em tudo que foi aplicado e melhorando e investindo de fato no que funcionou no período: seja pessoal, profissional e institucional. Já estamos no “novo normal” que tanto se falava, mas ainda levaremos um tempo para um diagnóstico preciso, mas sou bem otimista.

*Fonte Professores: https://dreamshaper.com/br/ebook-educador-5-0/  

**Fonte PEGN: https://revistapegn.globo.com/Empreendedorismo/noticia/2022/05/pegn-sp-tem-alta-de-62-na-abertura-de-empresas-desde-agosto-educacao-e-destaque.html

A opinião do entrevistado (a) não expressa, necessariamente, o posicionamento do Blog da Minha Biblioteca. 

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