Saúde 5.0: conexão entre medicina, tecnologia e paciente

Novas tecnologias, uso de inteligência artificial e a remodelação da profissão: como o conceito de Saúde 5.0 tem movimentado a medicina? Entenda mais sobre o futuro da profissão nesta entrevista com o gerente médico do Centro de Telemedicina do Hospital Israelita Albert Einstein, Carlos Pedrotti, e com o diretor executivo de Medicina do Grupo Afya, Mauro César Tavares de Souza.

O que é Saúde 5.0?

Além da maior conectividade já presente na Saúde 4.0, a Saúde 5.0 coloca o paciente no centro de todo processo. “Na 4.0 você tem a saúde utilizando meios digitais, mas na saúde 5.0 você torna a medicina híbrida. Você incorpora essas ferramentas digitais no acompanhamento do paciente ao longo da sua jornada de saúde, é uma integração muito maior do cuidado à saúde com uso de ferramentas digitais e inteligência artificial”, conta Carlos Pedrotti.

“É inevitável, necessário e revolucionário. Veja como exemplo a telemedicina. Quando algumas populações extremamente isoladas na região Norte e Nordeste do país, por exemplo, poderiam ter acesso à assistência médica? Mais ainda: quando essas mesmas populações teriam acessos à médicos especialistas? A telemedicina, já homologada pelo CFM, pode resolver todas essas situações”, afirma Mauro César Tavares de Souza.

O que é telemedicina?

A telemedicina é a prática da medicina mediada por tecnologias digitais para fins de assistência, educação e promoção de saúde. Dessa forma, o Conselho Federal de Medicina (CFM) regulamentou a prática em maio de 2022, quando a telemedicina havia ganhado força durante o período da pandemia de Covid-19. 

Entre 2020 e 2021 foram mais de 7,5 milhões de consultas realizadas por telemedicina no Brasil. De acordo com a pesquisa da Grand Research Review, o mercado global de telemedicina foi avaliado em US$ 83,5 bilhões em 2022, com projeção de taxa de crescimento anual de 24% até 2030.

Equidade em saúde

Em pauta desde 2018 no CFM, a telemedicina hoje é uma aliada da praticidade e também da equidade em saúde, facilitando o acesso às pessoas que dependem do Sistema Único de Saúde (SUS), principalmente em especialidades com poucos profissionais. É o caso do programa TeleAMEs, desenvolvido pelo Einstein para rede pública de saúde nas regiões Norte e Centro-Oeste.

“É uma teleconsulta de especialista em conjunto com o médico de atenção primária para atender pacientes nas Unidades Básicas de Saúde (UBSs). Quando o médico identifica que precisa de uma dessas especialidades, ele entra em contato conosco e participa da entrevista”, explica o gerente médico do Centro de Telemedicina.

Até maio deste ano já foram mais de 100 mil consultas realizadas gratuitamente pelo programa, com baixo índice de encaminhamento para consultas presenciais. As especialidades atendidas por telemedicina no programa são cardiologia, endocrinologia, neurologia infantil e para adultos, pneumologia, psiquiatria e reumatologia.

E o futuro?

Para além da telemedicina, as novas tecnologias se tornaram aliadas no processo de decisão do profissional de medicina. “O que não vai mudar em pouco tempo é a forma de praticar medicina com humanidade. As novas tecnologias vieram para dar um suporte à decisão, tornar o médico mais eficiente, ajudar a seguir protocolos e evitar erros”, conta Carlos Pedrotti.

“As tendências atuais são buscar apoio na tecnologia para dar mais certeza na tomada da melhor decisão clínica. Logicamente que a decisão final é do profissional, mas um complexo algoritmo de alguma inteligência artificial poderá auxiliar substancialmente. A inovação aponta para aqueles modelos que terão a maior capacidade de suporte na tomada da decisão clínica, associada a programas ‘amigáveis’ e de baixo custo”,  afirma Mauro César Tavares de Souza.

Dentro das escolas médicas o modelo curricular terá um papel primordial na preparação dos futuros médicos. “Aquela escola que oferta tecnologias modernas de informação e comunicação, que possua um Centro de Simulação em Saúde implantado e acreditado internacionalmente para que seus estudantes possam treinar em ambientes controlados e seguros, que ofertam o internato em locais onde o professor acompanha sistematicamente os últimos anos dos alunos, e, paralelamente, possa ofertar plataformas digitais de conteúdos teóricos de alta qualidade (artigos científicos nível 1A) para ajudar na tomada da melhor decisão clínica, com certeza estará formando profissionais mais preparados não só para se adequarem às novas tecnologias, como também para oferecer o melhor atendimento/tratamento aos seus pacientes”, explica o diretor executivo de Medicina do Grupo Afya.