Mulheres na Educação desafios e conquistas

Mulheres na Educação: desafios e conquistas

A Educação é o caminho do conhecimento. E, nesta trajetória, as mulheres têm assumido cada vez mais responsabilidades. Suas contribuições ultrapassam, e muito, a arte de ensinar a ler e escrever.  Porém, o merecido reconhecimento na carreira nem sempre acontece.

Para homenagear estas desbravadoras, no mês em que se comemora o Dia Internacional da Mulher, o BLOG da Minha Biblioteca conversou com algumas delas, que trazem um novo olhar para Educação: no ensino, pesquisa, projetos e gestão das universidades e contam como chegaram ao lugar que ocupam agora. 

O Especial de hoje traz duas entrevistas com histórias de vida e exemplos do protagonismo feminino: Maria Teresa Mantoan, pedagoga, com mais de 50 anos de carreira, e que se dedica às áreas de pesquisa, docência e extensão na Faculdade de Educação da UNICAMP (Universidade Estadual de Campinas) e Alini Dal Magro, CEO do Instituto PROA e Top Voice do LinkedIn.

Mulheres na Educação: desafios e conquistas

“A participação da mulher é inegável em muitos universos e, como professora, tem um papel de destaque na formação das novas gerações, o que lhe concede grandes posicionamentos, diante do que é preciso fazer para que as atuais gerações não repitam as anteriores. Mas nem sempre isso tem acontecido”, analisa Maria Teresa Mantoan, da Faculdade de Educação da UNICAMP.

“A condição feminina – que graças a Deus agora está sendo vista, a duras penas, de outra maneira – sempre fez da mulher alguém a serviço de alguma coisa: do lar, da escola, dos homens, em trabalhos que eles e alguns ainda concordam. Pensavam ser tarefas mais delicadas, que envolviam menos decisão, menos força. A ideia era sempre estar exercendo tarefas reprodutoras na sociedade e que, na Educação, passou a ter um caráter de transmissoras de uma herança. Porém, no sentido de não fazer da herança algo que os novos tenham capacidade de executar, ampliar e recriar, mas de manter, do ponto de vista dos costumes, cultura, do modo de ser e de viver tanto dos homens como das mulheres”. 

Para a educadora, infelizmente, não há muita mudança neste cenário. “Algumas mulheres se destacam e levam à frente uma bandeira diferente, que tem a ver com um novo modo de ser da mulher, que implica numa construção de si e não em um projeto de construção da sociedade, que é muito diferente. Mas são poucas as que levantam essas bandeiras, especialmente na área da educação escolar. Porém, o que eu percebo é que a maioria continua no seu papel transmissor e reprodutor e, nesse sentido, eu me sinto ainda decepcionada com o que temos feito e o que poderíamos fazer”, lamenta. 

E acrescenta: “Entrei para carreira do magistério muito jovem, com 17 anos, e nunca fui uma aluna que correspondia aos padrões da época. Como professora, não consegui também ser influenciada pela minha formação e tive sorte porque comecei a exercer a profissão em condições muito especiais, em um local que tinha independência sem ter, acima de mim, todo um sistema de um comportamento pautado pela hierarquia, pela obediência a padrões de uma escola pública, que continua até hoje”. 

Foi na direção de quebrar paradigmas, que Maria Teresa construiu sua carreira. Mas ressalta: “não vejo um movimento forte das mulheres, no sentido de repensar a Educação, a partir da sua própria atuação como professora, seja na universidade ou no ensino básico. Minha percepção é que sempre está presente o domínio daqueles que concebem a Educação de um modo que restringe tudo que os jovens podem fazer de novo, por uma nação mais preparada e, além disso, mais afinada com os recursos que temos hoje na nossa sociedade, não só brasileira, mas no mundo em geral. Restrições que se agravaram nos últimos anos”. 

Mulheres na Educação: desafios e conquistas

Alini Dal Magro, CEO do Instituto PROA – ONG que visa capacitar e incluir no mercado de trabalho, jovens de baixa renda vindos da escola pública – tem uma visão mais otimista sobre a atuação feminina, principalmente quando se pensa nos cargos de liderança na Educação Superior. “Percebo que esse crescimento tem acontecido, nos últimos anos, de forma gradual e expressiva. Em uma pesquisa de 2021, da Page Executive, unidade de negócio do PageGroup, a presença feminina nas posições de destaque cresceu 20%, em 2020. Se comparada com a masculina, as mulheres saíram de uma representação de 30%, em 2019, para 37% no ano retrasado. Isso representa uma vitória para todas nós. Também tenho notado avanço na Educação Superior e no Ensino Profissionalizante. Hoje, aqui no Instituto PROA, temos 5 mulheres entre os 8 gestores. Isso significa 62% de participação feminina. Um número que me orgulha muito”.

A Top Voice do LinkedIn reconhece que o caminho não é fácil. “Mesmo a passos lentos, o mercado de trabalho vem se tornando mais democrático e nós mulheres estamos construindo alicerces importantes. Porém, chegar ao cargo máximo de uma empresa, exige muita dedicação, planejamento e trabalho duro, e isso todo mundo já sabe. Mas o que pouca gente sabe é que quando você chega lá e busca uma referência feminina, é bem possível que não encontre ninguém”.

Ao assumir o cargo máximo no Instituto, como CEO, foi impossível para Alini não reavaliar sua trajetória. “Esse processo de inspiração sempre fez parte do meu desenvolvimento. Quanto mais eu crescia na carreira, alçando novos voos, como coordenadora, gerente, diretora, COO, CEO, mais percebia que o número de mulheres nessas funções era cada vez menor. Até o nível de gerência é comum termos muitas mulheres. Mas, ao olharmos para a diretoria, isso diminui. Nos cargos no C-level e Conselho, isso cai drasticamente. Um levantamento do IBGC (Instituto Brasileiro de Governança Corporativa), em 2021, avaliou 295 empresas brasileiras e mostrou que, em 22,4% delas, não há nenhuma profissional no C-Level ou em seus Conselhos, acreditam?”

Esta reflexão vai um pouco mais além. “Se não conheço nenhuma CEO, será que essa posição é para mulheres? A resposta é sim, essa posição é para nós também! Ainda que tenhamos que cuidar das questões que são intrinsicamente femininas, como maternidade, conciliar agendas e lidar com todos os desafios que um cargo como esse oferece.  Infelizmente, as referências que podem nos inspirar e levar meninas a sonharem em ser também profissionais de alto nível são poucas ou, às vezes, nem existem. Por isso, precisamos cumprir esse papel e, nesse sentido, buscar conselhos de outras mulheres que já viveram experiências parecidas pode fazer toda a diferença”, ensina.  

Educação para todos

O que estas duas profissionais concordam, plenamente, é a acessibilidade à Educação. Maria Teresa é uma das defensoras do direito incondicional de todos terem acesso à educação escolar de nível básico e superior de ensino, mas acha que ainda há muito a avançar. 

“Apesar de tantos esforços, para o reconhecimento do papel da mulher na Educação, percebo que os ecos de todos esses movimentos não estão fazendo com que as coisas mudem como deveriam. Insisto no nosso papel da mulher, como professora, numa visão muito acomodada, pouco voltada para um rompimento de padrões, com muito cientificismo. Uma Educação pautada em ideias universalizadas, generalizadoras, que desconhecem a maravilha do nosso papel, que é, justamente, trabalhar com cada aluno, no sentido de fazer com que ele não seja o que a gente quer, o que a sociedade tem como modelo de cidadão, mas que seja o cidadão que tem condições sempre de recriar-se e recriar o mundo em que vive”, ressalta.

Alini também acredita no poder transformador da Educação, sobretudo da profissionalizante e de preparo para o mercado de trabalho. “Hoje muitos jovens saem do Ensino Médio sem o suporte necessário para a escolha da sua profissão e carreira no Ensino Superior. Poucos têm a oportunidade de praticar o autoconhecimento ou desenvolver disciplinas socioemocionais, fundamentais em qualquer profissão e muito valorizadas pelas empresas atualmente, como a resiliência e a empatia. O resgate da autoestima e autoconfiança deles e sua inserção no mercado produtivo, é, sem dúvida, um dos maiores desafios na jornada de Educação”. 

Para a CEO, a percepção do quanto é fundamental o trabalho de empoderamento jovem para a sociedade, como um todo, também tem sido um dos nortes da sua vocação educacional, principalmente quando se fala em mulheres.  “Nós devemos cada vez mais apoiar a juventude de forma a construir cidadãos completos, que unam habilidades sociocomportamentais e técnicas e se tornem independentes para construir a sua trajetória”.  Ela menciona que mais de 70% dos que passaram pelos cursos do Instituto são mulheres. “São elas que estarão no mercado de trabalho e serão futuras gestoras. E nós, por meio da sororidade e empoderamento feminino, podemos apoiar umas às outras para que tenhamos cada vez mais mulheres em cargos de liderança do Ensino Superior, Técnico e Profissionalizante”. 

Como estas mulheres vislumbram o futuro da Educação? 

Um olhar positivo é no que Alini Dal Magro aposta. “Acredito que nosso futuro será cada vez mais promissor e cheio de oportunidades. Segundo o IBGE, em 2019, 19,4% das mulheres acima de 25 anos tinham ensino superior no país, e apenas 15,1% dos homens – o que mostra a nossa resiliência e a garra feminina para dar seguimento aos estudos. Fico feliz e grata de ver mulheres em cargos de liderança de grandes empresas, universidades, escolas técnicas e profissionalizantes e que esses espaços, antes ocupados prioritariamente por homens, agora também são uma realidade para nós. E para quem chega lá, como eu, sempre haverá muitas dúvidas, como qual parte desse desafio cabe a mim? A resposta está num desejo, ao mesmo tempo, simples e complexo: como mulher e profissional com perfil de liderança, espero que cada vez mais executivas consigam quebrar paradigmas e ultrapassar obstáculos”.

Nem tão otimista, Maria Teresa Mantoan ressalta que seu posicionamento, do ponto de vista das mulheres, em geral, na Educação, não é dos mais animadores. “Embora eu creia que isso virá, num momento, acho que pela quantidade de mulheres, pelo que tantas já conseguiram conquistar, ainda o nosso papel, como educadoras, é muito restrito a essa concepção de mulher reprodutora e transmissiva de algo pronto, de uma tradição e não uma incitadora do novo”. 

Na próxima semana, você confere aqui no Blog, mais relatos no Especial Mulheres da Educação.

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