Amanhã, 09 de setembro, é comemorado o Dia do Administrador, uma referência à data que foi instituída a lei, em 1965, que passou a regulamentar a profissão. Quase seis décadas depois, a carreira tem evoluído junto com as empresas, nas estratégias de gestão dos negócios e, também, de pessoas.
Para alinhar os desafios e conquistas da profissão, o Blog da Minha Biblioteca convidou um especialista com reconhecimento internacional: o Professor e Escritor Idalberto Chiavenato. São mais de 30 livros publicados pelas editoras e selos editoriais Atlas/Gen, Elsevier, Campus, Saraiva Educação, Manole, Makron Books, McGraw-Hill de México e Espanha, e dezenas de artigos no Conselho Federal de Administração e Conselho Regional de Administração de São Paulo.
Com essa ampla obra literária, sua contribuição e influência na definição e aplicação de conceitos inovadores no cotidiano das companhias o fez merecedor de vários prêmios e distinções no Brasil e Exterior.
Doutor e Mestre em Administração pela City University of Los Angeles-CA, graduado em Filosofia/Pedagogia, com especialização em Psicologia Educacional pela Universidade de São Paulo, em Direito pela Universidade Mackenzie e especialista em Administração de Empresas pela FGV-EAESP, é um entusiasta e orgulhoso ao posicionar o administrador como o mais importante protagonista das mudanças e transformações dentro e fora das organizações, que estão impactando toda a sociedade moderna.
MB – A profissão de administrador foi regulamentada em 1965. Quais os principais desafios nestes quase 60 anos e como suas obras acompanharam estas mudanças?
Idalberto Chiavenato – A regulamentação foi uma conquista de nossa categoria no país, assegurando a defesa do exercício legal da profissão, que passou a ser amplamente definida e regulamentada por lei. Como administradores temos orgulho pelo fato de criarmos valor e entregá-lo a todos os públicos estratégicos que servimos, através das organizações que lideramos dentro da agenda ESG (Environmental, Social and Governance). Logo após a regulamentação publiquei meus dois primeiros livros: Administração de Recursos Humanos (Editora Atlas) – o pioneiro de RH na América Latina – e Introdução à Teoria Geral da Administração (McGraw- Hill do Brasil), com lançamento simultâneo com a McGraw-Hill do México e da Espanha, para toda a América Latina e Espanha.
Foi uma torrente de novas ideias na Administração e na área de Gestão Humana. E, mesmo trabalhando no corpo diretivo de uma grande empresa, logo passei a lecionar as novidades Recursos Humanos, na Escola de Administração de Empresas da Fundação Getúlio Vargas, e TGA – Teoria Geral da Administração – na então Faculdade São Judas Tadeu, onde fui diretor da área administrativa. TGA foi uma denominação que inventei na época, em função das várias teorias administrativas que surgiram. Também fui convidado como paraninfo na 1ª turma de formandos nas duas instituições. Só isso já valeu como incentivo.
MB – Quais as principais conquistas da categoria?
Idalberto Chiavenato – Após a regulamentação da profissão, começaram a surgir as primeiras faculdades de Administração em todo o país. E nelas, as cadeiras de Teoria Geral da Administração e de Recursos Humanos. Meus livros tiveram muito sucesso. E, ao longo do tempo, o mundo saiu da Era Industrial, passando pela Era da Informação e alcançamos a Era Digital, graças às grandes inovações, como a computação, a internet e mais recentemente a transformação digital. A Administração não somente participou dessas conquistas, mas colaborou intensivamente para o seu desenvolvimento. E o mundo passou por mudanças e transformações intensas. Tudo mudou e com uma velocidade incrível.
Após o lançamento do livro Gestão de Pessoas, em 1999, muitas empresas começaram a abandonar velhos conceitos tradicionais sobre como lidar com as pessoas que nelas trabalham. Perceberam que elas não são meros recursos passivos e estáticos que devem ser administrados. Na nova edição de 2020, com o título Gestão de Pessoas para Gestão do Talento Humano, elas passaram a ser cada vez mais autônomas, lideradas, empoderadas e impulsionadas. Agora, trata-se de gerir não mais as pessoas em si, mas o conhecimento, competências, insights e o talento que elas possuem. E a gestão do conhecimento corporativo se tornou mais humana. Esse passo adiante foi uma enorme conquista da área. Hoje, o capital humano se tornou a base de todo o capital intelectual de uma empresa. Uma imensa riqueza intangível.
MB – A Administração sempre é apontada como uma das profissões que mais cresce no país. Por que isto tem acontecido?
Idalberto Chiavenato – A Administração cresceu rapidamente em nosso país e em todo o mundo moderno. Qual a razão? Claro, vivemos em uma sociedade de organizações. Nascemos nelas, vivemos nelas e até morremos nelas. E sem o perceber, compramos nelas, trabalhamos nelas, aprendemos nelas e dependemos delas para tudo. E tudo o que precisamos para viver é criado, produzido e entregue por organizações. A maior do mundo é a Organização das Nações Unidas (ONU). O fato é que todas precisam ser conduzidas por uma equipe de administradores. Daí, a enorme procura por este profissional. E, nas suas atividades, o administrador influencia poderosamente a vida de clientes, consumidores, acionistas, investidores, colaboradores, atacadistas, varejistas etc. Uma ampla e portentosa influência interna e periférica.
MB – As Instituições de Educação Superior têm criado ferramentas e adequado sua grade curricular para preparar os futuros administradores para o atual mercado de trabalho?
Idalberto Chiavenato – O ensino da Administração está passando por mudanças e transformações. Novas diretrizes enfatizando cada vez mais as habilidades (hard skills e soft skills) e competências e priorizando o aprendizado ao longo de toda a vida (lifelong learning) para viver e crescer em um mundo mutável, volátil, incerto, ambíguo e exponencial. É uma longa viagem de desenvolvimento profissional para construir carreiras de sucesso continuado. Precisamos estar sempre preparados para o futuro, seja como ele venha.
MB – O que tem evoluído nas trilhas de aprendizagem na graduação e cursos de especialização?
Idalberto Chiavenato – Tecnologias disruptivas estão provocando inovações no ensino da Administração. E o Metaverso está chegando com novas soluções de aprendizado cada vez mais complexas, dinâmicas e eficazes. Logo surgirão as suas ondas de impacto. O aprendizado dinâmico, participativo, criativo e continuado vai ser possível em qualquer tempo e lugar. Um velho sonho nosso: capacitar administradores para ajudar a construir um mundo melhor e com organizações melhores.
“Lidar com talentos exige uma nova concepção de conquistar, iluminar e engajar pessoas, fazê-las felizes e satisfeitas com o seu trabalho, oferecer aprendizado constante, impulsioná-las para a frente em suas carreiras, liderá-las com inteligência, empatia e solidariedade.”
MB – Como a tecnologia está inserida neste contexto do ensino-aprendizagem? E as plataformas on-line e cursos EaD?
Idalberto Chiavenato – As mesmas tecnologias disruptivas estão fazendo avançar a Administração e, em consequência, a Administração está proporcionando avanços nas tecnologias. Uma conectividade impressionante: cada uma ajudando a outra e criando um mundo digital, on-line, baseado em redes, plataformas e ecossistemas em uma propagação exponencial, fazendo o mundo em que vivemos cada vez melhor.
Precisamos nos preparar adequadamente para esse novo que está surgindo em outras formatações organizacionais, virtuais e exponenciais. Esse será o papel do administrador nesse atual cenário incerto e caótico. E, por falar em tecnologias no contexto ensino-aprendizagem e plataformas on-line e cursos EaD, gostaria de abordar uma informação que recebi há alguns meses. O Conselho de Administração da Volkswagen, em Wolfburg na Alemanha, enviou uma notícia incrível: a megacorporação está se transformando em uma empresa de tecnologia, uma tech.com. Seus novos concorrentes não serão mais a Honda, Stellantis, Ford ou Citroen, mas a Apple, Microsoft ou IBM. Seu novo foco é o software. É bem possível que muitas universidades e instituições de ensino venham a fazer o mesmo. Com redes, plataformas e ecossistemas no meio.
MB – Acredita que na era digital, o coaching e mentoring são importantes ferramentas em uma organização, para que ela mantenha sua competitividade?
Idalberto Chiavenato – A Administração mais as tecnologias avançadas estão proporcionando a transformação digital e a era pós-digital. Além disso, a moderna liderança está cada vez mais abrangendo o avanço do coaching & mentoring na condução de equipes multifuncionais e autônomas. Em meu livro Coaching & Mentoring: Construção de Talentos (Editora Atlas, 4ª edição) já vinha predizendo isso há muito tempo. Quando o líder consegue aplicar estes conceitos, significa ampliar e expandir o toque humano na moderna Administração.
MB – E sobre as estratégias ESG (Environmental, Social and Governance)?
Idalberto Chiavenato – O novo capitalismo e a Governança Corporativa estão avançando em vários sentidos, ao envolver cada vez mais uma enorme variedade de públicos de interesse – os chamados stakeholders e não apenas os shareholders. E ela tornou-se mais humana, mais mercado, mais sociedade, mais ambiente e mais governança. Uma nova e ampla agenda na condução das modernas organizações.
MB – Pensando na gestão atual das empresas, como acredita que deveria ser a postura de um administrador ideal?
Idalberto Chiavenato – Um mundo em mudança requer uma nova mentalidade. Está havendo uma quebra nas velhas barreiras organizacionais internas: paredes verticais (andares e tetos que separam os níveis hierárquicos, títulos e status), paredes horizontais (as laterais que separam departamentos, funções, unidades de negócio criando silos isolados ou feudos fechados) e paredes externas (no espaço e no tempo, envolvendo fornecedores, clientes e consumidores). Um movimento para criar
organizações integradas e holísticas, através de uma liderança de lideranças, com equipes multifuncionais e autônomas, envolvendo soft skills + hard skills. Onde? Em todos os níveis e áreas trazendo flexibilidade, adaptabilidade, integração e agilidade. Como? Atuando com estabilidade (através de uma espinha dorsal) para assegurar a agilidade (por meio de equipes multifuncionais autônomas e empoderadas). Lógico: assegurando a agilidade na frente, graças à estabilidade na base. Pense em um celular – como a base da estabilidade – dotado de vários softwares para fornecer as mudanças com flexibilidade, adaptabilidade e agilidade). Fácil!
MB – O que acha de ser chamado de “pai do RH”?
Idalberto Chiavenato – Na verdade, temos provocado várias mudanças nos conceitos do velho RH para a Gestão do Talento Humano, como gente como nós e não mais como recursos. Tal como a gestão do conhecimento que as pessoas possuem. Graças a novos conceitos para criar um mindset avançado e inovador. Hoje, a preocupação empresarial está migrando para alcançar uma comunidade colaborativa de talentos muito além do velho, tradicional e limitado conceito de força de trabalho. Lidar com talentos exige uma nova concepção de conquistar, encantar e engajar pessoas, fazê-las felizes e satisfeitas com o seu trabalho, oferecer aprendizado constante, impulsioná-las para a frente em suas carreiras, liderá-las com inteligência e solidariedade.
MB – Em que aspectos houve mudanças e transformações nestas áreas?
Idalberto Chiavenato – Sem dúvida, o mundo em que estamos vivendo está exigindo uma nova administração e uma nova gestão humana. Tudo muda em uma velocidade incrível e essas transformações requerem flexibilidade, adaptabilidade e agilidade não somente das organizações, para que possam ser sustentáveis e competitivas, mas e principalmente o mesmo, dos administradores e pessoas envolvidas. Isso significa não somente mudanças organizacionais extremamente rápidas em suas estruturas e dinâmica, como também mudanças na mentalidade, comportamento e desempenho humanos. Precisamos mirar para a frente e não mais para trás, pelo retrovisor, como se fazia anteriormente.
MB – Como definiria o perfil do administrador hoje? Quais deveriam ser suas habilidades e competências?
Idalberto Chiavenato – Tudo depende do nível e da função em termos de suas habilidades e competências. Ele deve ter um perfil estrategista, na posição de líder de líderes e de equipes, como deve ser um tático quando no núcleo central do negócio ou operacional, quando estiver na base.
MB – E qual o objetivo do Instituto Chiavenato neste cenário?
Idalberto Chiavenato – Em 1990, Ricardo Chiavenato, meu filho e eu fundamos o Instituto Chiavenato. Nosso propósito é servir de apoio e conexões com instituições de ensino, universidades, empresas, autores, professores e estudantes, para o desenvolvimento da Administração e do Capital Humano. Disponibilizamos plataformas de conteúdos, cursos de gestão on-line e grupos de estudos, sempre visando compartilhar as melhores práticas, debater questões e desenvolver novas ideias no contexto da Administração.
MB – Como vislumbra o futuro da Administração?
Idalberto Chiavenato – Com a redução e derrubada das barreiras verticais, horizontais e organizacionais das empresas como falamos, a Administração está constantemente avançando e se universalizando, trazendo conceitos inovadores e uma descentralização e delegação de responsabilidades, o que significa que decisões e ações administrativas estão sendo entregues aos talentos em suas decisões e ações no trabalho em equipe. O administrador vai desaparecer? Pelo contrário, suas atividades estão sendo cada vez mais elevadas, cada vez mais centradas no negócio da organização e cada vez mais estratégicas. E suas equipes cada vez mais táticas e operacionais. E vale parabenizar e desejar sucesso para aqueles que escolheram a profissão de administrador.
Leia algumas obras do Prof. Idalberto Chiavenato na Minha Biblioteca
Teoria Geral da Administração – Vol. 2
Teoria Geral da Administração – Vol. 1
Recursos Humanos – O Capital Humano das Organizações
Planejamento, Recrutamento e Seleção de Pessoal – Como Agregar Talentos à Empresa
Desempenho Humano nas Empresas
Treinamento e Desenvolvimento de Recursos Humanos – Como Incrementar Talentos na Empresa
Remuneração, Benefícios e Relações de Trabalho – Como Reter Talentos na Organização
Administração: Teoria, Processo e Prática
Gestão de Materiais: Uma Abordagem Introdutória
Gestão Financeira: Uma Abordagem Introdutória
Gestão da Produção: Uma Abordagem Introdutória
*A opinião dos entrevistados não expressa, necessariamente, o posicionamento do Blog da Minha Biblioteca.
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