Gestão de Projetos: como as empresas e pessoas podem se beneficiar dessa prática

Uma área cada vez mais procurada e valorizada pelas organizações é a de Gestão de Projetos. Para entender melhor as diferentes abordagens dessa prática, o Blog da Minha Biblioteca conversou com Fernando Veroneze, Professor de pós-graduação e MBA na área de projetos da FIA, Escola de Engenharia do Mackenzie, ESALQ USP, Poli USP e CEO da consultoria SMR.

Para o especialista, referência no setor e coautor do livro ‘Gestão de Projetos: preditiva, ágil e estratégica’ – disponível na Minha biblioteca, quando bem conduzida, a Gestão de Projetos ajuda os profissionais e empresas a utilizarem de forma mais eficiente os investimentos, além de diminuir o desperdício de dinheiro e tempo. 

MB – Como descrever a abrangência e benefícios da Gestão de Projetos nos processos e mudanças organizacionais? É viável promover uma verdadeira transformação por uma boa gestão de projetos?

Fernando Veroneze – A Gestão de Projetos é uma prática ampla, que pode beneficiar todos que desejam aumentar as chances de sucesso nos projetos. Pode ser considerada uma organização temporal, uma forma de realinhar pessoas e processos com o objetivo de materializar produtos e serviços, situação que independe do setor de atuação.

Por isso, é sim viável promover a transformação com uma boa gestão de projetos. Por si só ela carrega complexidade, principalmente no que diz respeito à integração das áreas da gestão, como escopo, custo, cronograma, risco, partes interessadas / stakeholders etc.

MB – É possível construir um paralelo da Gestão de Projetos com áreas-chave como projeto-tecnologia, projeto-inovação, projeto-educação e projeto-pessoas, tendo como ponto central a transformação digital? 

Fernando Veroneze – A Gestão de Projetos é um meio para materializar produtos e serviços e insere três enfoques praticados globalmente: Preditiva, Ágil e Estratégica. É importante destacar que para cada situação, uma abordagem ou a combinação entre elas, seja a melhor forma para atingir o objetivo.

Existem estudos e cases que demonstram que para produto ou serviço que não tem requisitos bem definidos; ou quando o produto deve ser desenvolvido com base em experimentação e pesquisa – como é o caso dos projetos de inovação – o melhor caminho é utilizar a abordagem Adaptativa, conhecida como ágil.

Para projetos com requisitos mais bem definidos, como por exemplo na construção civil, a abordagem mais adequada é a Preditiva, também denominada como tradicional, cascata ou, em inglês, waterfall.

MB – Pode comentar um pouco mais sobre estas três perspectivas: Preditiva, Ágil e Estratégica?

A Gestão Preditiva é utilizada em projetos em que os requisitos são mais bem definidos, como na engenharia geral. A Gestão Adaptativa já deve ser utilizada em projetos em que os requisitos não são bem definidos, em que a construção do projeto/produto precisa ser baseada na experiência. Parte do produto é construído e experimentado/testado e depois inicia-se o ciclo de construção, experimentação. A ideia é obter feedback sobre o que está sendo construído e assim ajustar a rota, os requisitos do produto.

Já a Gestão Estratégica  envolve dois temas. O primeiro é a nova geração da Gestão de Projetos, que é a adaptação no uso das abordagens, utilizando as ferramentas e práticas da Gestão Preditiva e Adaptativa de maneira combinada para resolver os problemas do projeto. O segundo é a Gestão de Portfólio de projeto,  que é considerada a gestão estratégica e engloba o alinhamento das necessidades estratégicas da organização versus as possibilidades de projetos para o atendimento destas necessidades. Este tipo de gestão ajuda a empresa a obter vantagem competitiva, investindo em projetos mais em sintonia com o que irá gerar maior valor na companhia.

MB – No livro ‘Gestão de Projetos: preditiva, ágil e estratégica’ , de sua coautoria, também são citados os principais avanços na área. Quais seus impactos hoje?

Fernando Veroneze  –  O principal avanço é a flexibilidade que os gerentes e líderes de projetos precisam adotar para conseguir acompanhar a velocidade do mercado. 

A Gestão de Projetos era vista como uma área engessada, de difícil adoção. Podemos dizer que era uma área para engenheiros. Mas as coisas mudaram. O tempo mostrou que a Gestão de Projetos não necessita mais ser “by the book”, seguindo as regras de ponta a ponta. Na realidade, nunca precisou ser assim.

Os profissionais envolvidos com projetos devem conhecer as principais práticas e ferramentas da gestão, seja da abordagem preditiva ou ágil, e adaptá-las conforme a necessidade e desafio. O PMI (Project Management Institute), principal Instituto de Pesquisa do mundo, na área da gestão de projetos, tem abordado bastante este tema.

MB – Como o livro se renova nessa sexta edição e como foi a parceria com o Prof. Antonio Cesar Amaru Maximiano?  O que a obra pode agregar aos leitores?

Fernando Veroneze – O livro está mais sucinto e muito prático, indo direto ao ponto. Considero a melhor e mais atual obra de Gestão de Projetos do país. Tive o prazer de fazer parte da nova edição ao lado do Professor Amaru. Minha contribuição foi trazer a abordagem e as práticas da gestão ágil e a combinação delas de uma forma estratégica, adaptando as ferramentas e processos com base na necessidade, no desafio.

Está leve, com muitas imagens e exemplos, para que os leitores tenham a oportunidade de aprender com facilidade. E avaliando as três principais abordagens da Gestão de Projetos, em um único livro, podemos considerar uma obra 3 em 1, com exemplos práticos em cada um dos capítulos e ilustrações autoexplicativas criadas com muito carinho.

MB – Diante das várias abordagens e dos inúmeros recursos tecnológicos, como se insere o capital humano no processo de gestão das empresas?

Fernando Veroneze – O capital humano deve estar no centro da discussão. Uma das formas de valorizar as pessoas é dando a elas liberdade e autonomia para tomarem as decisões sobre como executar as atividades do dia a dia. A definição sobre o que é necessário ser feito, a visão de futuro, precisa ser promovida pelos líderes, mas a definição sobre como fazer é importante partir dos colaboradores.

Os líderes devem ser o caminho para a construção desta cultura, disseminar e desenvolver nas organizações a autonomia e independência dos colaboradores. Temos inúmeras experiências muito positivas sobre esta ser a melhor estratégia para promover engajamento,  criatividade e a melhoria do desempenho organizacional.

MB – Há uma ferramenta ideal para o desenvolvimento de lideranças competentes? Os profissionais têm acompanhado as mudanças e exigências no atual cenário organizacional, mais dinâmico e com práticas como as de ESG?   

Fernando Veroneze  – Não acredito que exista uma melhor ferramenta ou processo para o desenvolvimento de lideranças competentes. Creio que o assunto ESG tem ganhado cada vez mais espaço no contexto nacional, mas ainda está muito direcionado para áreas específicas dentro das empresas. Entendo que ESG deveria ser promovido nas organizações como um todo. Acho que ainda falta muita integração de outras áreas das empresas e a gestão de projetos pode ajudar as empresas a se organizarem em projetos e portfólio (abordagem estratégica) para atender mais rapidamente às transformações.

Uma forma de aumentar as chances de sucesso seria fazer o ‘casamento’ da Gestão de Projetos com a Gestão de Mudanças organizacionais. Recentemente ministrei uma palestra para o PMI, no evento CBGPL (Congresso Brasileiro de Gestão, Projetos e Liderança), no qual falei sobre a Gestão de projetos e mudanças organizacionais, casamento ou divórcio? Foi uma oportunidade de chamar a atenção para o tema, de forma mais descontraída.

MB – Você já citou que ‘toda empresa é uma empresa de tecnologia e todo líder precisa conhecer a tecnologia disponível para o seu setor’. Pode contextualizar melhor?

Fernando Veroneze – O que quis dizer é que não tem como voltar. A tecnologia veio para ficar e estará cada vez mais presente na vida das pessoas, dos consumidores. 

Neste aspecto sugiro uma reflexão: a Magazine Luiza/Magalu é uma empresa do varejo, mas qual é o principal canal de vendas dela? Se os diretores estivessem frente a uma catástrofe e pudessem optar: escolheriam ficar 10 dias com as lojas físicas fechadas ou por 10 dias com o e-commerce off-line? Esta provocação não foi criada por mim e sim pelo autor Steve Brown, no livro Innovation Ultimatum. As tecnologias emergentes, como IoT (Internet das Coisas), IA (Inteligência Artificial), 5G, entre outras, irão permitir que os negócios transformem os setores de forma que ainda nem podemos imaginar e tudo isso será baseado em tecnologia.

MB – Com foco no ensino na área de Gestão de Projetos, qual o perfil desse docente? Como deve se manter atualizado? Quais metodologias considera as mais adequadas e as que adota como professor?

Fernando Veroneze – Muitos professores precisam mudar a forma de lecionar  a disciplina. As aulas devem ser voltadas para a prática. Eles podem buscar cursos e livros de oratória, teatro, improviso e as novas práticas da gestão de projetos e produtos. O  meu livro com o Professor Amaru, que já mencionei, é uma recomendação entre as obras atuais. 

Outra sugestão e que gosto bastante é o uso de cases para colocar as ideias em prática, com a aprendizagem baseada em projetos. Um business case deixa à disposição dos estudantes as premissas e dados fundamentais para a aplicação deste tipo de metodologia.

“A Gestão de Projetos existe para trazer mais clareza sobre o caminho e contornar os ‘buracos’, ou ainda, como mais provável, realinhar com mais velocidade sempre que se passar por um buraco”

MB – Para o estudante que deseja ingressar na área de Gestão de Projetos, qual a formação necessária? As startups são um caminho?

Fernando Veroneze – Os cursos de curta duração, pós-graduação e MBA são uma alternativa de formação e criação de networking para entrar neste mercado. Outra opção é iniciar em startups ou programas de voluntariado, que dão ao estudante ou profissional sem experiência, a oportunidade de colocar a teoria em prática.

MB – Numa análise geral, que tipo de segurança traz uma bem elaborada Gestão de Projetos? Sugere um planejamento à prova de falhas ou apenas  evita que se empreenda no escuro?  É uma ferramenta indispensável hoje para qualquer empresa que visa crescer com solidez?

Fernando Veroneze – A Gestão de Projetos, quando bem conduzida, ajuda os profissionais e organizações a utilizarem de forma mais eficiente os investimentos, a diminuir o desperdício de dinheiro e tempo.

Na minha experiência, muitos clientes e alunos desejam um planejamento à prova de falhas, mas nada está à prova de falhas. A Gestão de Projetos existe para trazer mais clareza sobre o caminho e contornar os ‘buracos’, ou ainda, como mais provável, realinhar com mais velocidade sempre que se passar por um ‘buraco’.

Costumo falar que gerenciar projetos é organizar as atividades, aí o dia a dia desorganiza, você apaga incêndios e depois reorganiza as atividades. É um jogo de organiza e desorganiza até que todos saiam do outro lado com o produto em mãos ou com o serviço funcionando.

MB –É possível e válido transportar os princípios de uma boa gestão de projetos para ser aplicada no dia a dia, nos projetos pessoais. De que forma pode ser benéfica

Fernando Veroneze  – Sim, é possível. Para os projetos pessoais, a Gestão de Projetos pode ser simplificada, as pessoas podem pesquisar como material de apoio, um livro ou um curso de curta duração e será o suficiente para que possam colher bons frutos. Inclusive, sugiro que busquem conhecimento sobre escopo, custo e cronograma, as informações nestas três áreas irão contribuir para se ampliar a visão sobre o assunto.

*A opinião dos entrevistados não expressa, necessariamente, o posicionamento do Blog da Minha Biblioteca.

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