Os desafios para engajar os estudantes no processo de aprendizagem

Os desafios para engajar os estudantes no processo de aprendizagem

Está cada vez mais complicado, para os estudantes, reter informações por muito tempo e, para os professores, garantir que os alunos compreendam e gravem o conhecimento, diante do excesso de conteúdos a que são submetidos a todo momento. 

Mas, o que fazer para que o estudo não seja esquecido? Quais recursos podem colaborar para a aprendizagem e quais metodologias são capazes de fazer com que o estudante não esqueça o conhecimento que está sendo transmitido? Para Karina Nones Tomelin, Co-founder da B42 e idealizadora do Educabox, “a capacidade de autorregulação e de compreensão dos ritmos de aprendizagem são fundamentais para garantir a motivação ao aprender”.  

Criadora do conceito APD (Aprendizagem Baseada no Design) para o ensino EAD, Karina é a entrevistada desta semana no Blog da Minha Biblioteca.  Na conversa, ela faz reflexões sobre abordagens educacionais e aponta caminhos para promover experiências eficazes de ensino-aprendizado.

MB – O aprender passa por vários desafios, mas reter o conteúdo é um dos maiores. Hoje se fala muito na “curva do esquecimento”. Por quê? 

Karina Tomelin – Existem vários motivos e a maioria associados à Era Digital a qual vivemos. Escolhi três para tratar aqui. O primeiro é o excesso de informação a que estamos submetidos diariamente. O conhecimento e dados do mundo crescem a um nível exponencial. Buckminster Fuller, nos anos 80, descreveu a velocidade da mudança da seguinte forma: para o conhecimento da humanidade dobrar pela primeira vez foram necessários 1500 anos. Na segunda, levou 250 anos. Ao final da 2a. Guerra Mundial, levava 25 anos. Hoje, estima-se que ele dobre a cada 12 horas.   

Essa ‘infotoxicação’, por exemplo, gera uma carga cognitiva maior do que a que possamos processar. O psicólogo australiano John Sweller traduziu como sobrecarga cognitiva a capacidade limitada que temos de processar muitas informações ao mesmo tempo, prejudicando a memória e concentração, consequentemente o potencial de aprendizagem.

Outro fator está relacionado ao aumento da capacidade de processamento e memória dos computadores e outros dispositivos. Como eles funcionam como uma extensão do nosso corpo, expandem nossa capacidade de lembrar e receber dados, como guardar números telefônicos, registrar compromissos na nossa agenda, lembrar nomes de pessoas. Ou seja, os recursos tecnológicos passam a fazer isso por nós! O efeito Google também é parecido, já que trata da tendência de retermos cada vez menos informações, por acreditar que todas as respostas estão disponíveis na internet ou em base de dados. Isso faz com que nosso cérebro deixe de se preocupar em armazenar conhecimento, por confiar nos bancos de dados digitais. Apesar de estar relacionado ao maior buscador de conteúdo, o efeito relaciona-se a qualquer atividade de busca e armazenamento, nos deixando cada vez mais dependentes destes recursos.

 E, por fim, o novo hábito de fazer várias coisas ao mesmo tempo mudou nossa forma de trabalho, com foco em uma ou duas atividades. Hoje, enquanto estamos executando uma tarefa como leitura de um texto, ao mesmo tempo recebemos um e-mail, uma mensagem no celular, uma notificação das nossas redes sociais e um telefonema, diminuindo nossa capacidade de memória e até de decisão. Assim, o multitasking, ou fazer várias coisas ao mesmo tempo, tem impactado na qualidade do processamento da nossa memória.

 MB – Como colocar em prática os conteúdos relevantes para a formação do estudante e quebrar a regra da curva do esquecimento?

Karina Tomelin – Diante de tanta informação, o professor, muitas vezes, precisa ser o curador do conteúdo. Ajudar a selecionar, filtrar, indicar para que o esforço do aprender seja focado no que realmente importa. Acredito que algumas estratégias possam contribuir, como o microlearning, que é uma solução que propõe aprendizagem focada, condensada e pontual. É uma abordagem educacional que permite o aprendizado contínuo e diário, com objetividade e rapidez, já que os conteúdos são selecionados e desenvolvidos para entregar ao estudante o que de fato é essencial. Além disso, ele diminui a sobrecarga cognitiva no processo de aprendizagem, focando a concentração e a memória no que realmente é relevante e, também, associa o design da aprendizagem ao conteúdo, tornando-o mais lógico e atraente.  O microlearning é entregue em pequenos pedaços, envolvente e direcionado.  Transmite porções de conhecimento, em um curto espaço de tempo.  Dentre suas principais características, estão o acesso rápido, a linguagem dialógica, a entrega just in time, ou seja, para o que o estudante realmente precisa, de forma ágil, relevante, condensada, focada, versátil e atual. É uma opção para os professores. 

MB – Quais os melhores e mais eficazes caminhos para promover experiências de aprendizagem significativas e motivar o engajamento dos estudantes?

Karina Tomelin – É preciso refletir que os dois anos de pandemia, em que os estudantes passaram grande parte do tempo no sistema de aprendizagem remoto, impactaram diretamente na motivação para o estudo. Além disso, houve uma mudança na forma como eles mesmos percebem o aprender. A autoconfiança na sua capacidade de compreender conceitos, de se sentir capaz e bem-sucedido, especialmente em avaliações, foi abalada, inclusive em quem tem histórico de bom desempenho.  

Quando olhamos mais de perto para o conceito de motivação, compreendemos o quão complexo pode ser conectar o estudante a um processo de ensino e aprendizagem engajante. Segundo o psicólogo McGrew, as crenças automotivacionais, por exemplo, são capazes de influenciar nossa capacidade de sentir, motivar e se engajar no aprender. Desta forma, antes mesmo de pensarmos nas experiências que queremos promover, é necessário entender as crenças que os estudantes têm de si mesmo e como eles percebem sua relação com a aprendizagem, especialmente no atual cenário de retorno.

  Assim, vejam algumas ideias para pensar a motivação na sala de aula: 

  • Conheça os principais impulsionadores dos discentes, se são internos ou externos. 
  • Reconheça a crenças dos estudantes sobre seu potencial de aprender. 
  • Explore o interesse dos alunos pelo conteúdo. 
  • Oriente-os a criarem um plano de ação para chegar aos objetivos de aprendizagem. 
  • Conecte-os com o conhecimento, com o futuro tornando o aprender divertido e desafiador.

O autoconhecimento, a capacidade de autorregulação e de compreensão dos ritmos de aprendizagem são fundamentais para garantir a motivação ao aprender. Associado a um ambiente seguro e a experiências que valorizem a conexão com o mundo real, tornarão o conhecimento potencializado.  

“Professores precisam reconhecer a necessidade de mudança e ressignificação da docência. Mas, para isso, também precisam ser apoiados. As escolas e instituições, ao desenharem novos modelos de ensino e aprendizagem, devem envolver os docentes, desde a concepção até a implantação”

MB – A tecnologia pode ajudar no contexto de aprendizado? Quais as ferramentas mais utilizadas hoje pelos educadores e os resultados?

Karina Tomelin – As tecnologias digitais impulsionaram o aprendizado durante a pandemia. Professores que viviam experiências mais analógicas, como as pilhas de provas e atividades impressas, passaram a utilizar os sistemas digitais otimizando, inclusive, seu trabalho.

 Atualmente há muitos recursos gratuitos que podem ser utilizados pelos docentes para potencializar a retenção do estudo, no entanto, é preciso lembrar que eles precisam atender a uma intencionalidade pedagógica, ou seja, ter claro que toda ferramenta cumpre um objetivo no processo educativo e, como consequência, na formação do estudante. 

Quando a escolha dos recursos tecnológicos está alinhada com o propósito de formação, os resultados serão mais efetivos. Nesse caso, no planejamento, o professor determina os objetivos do processo de ensino-aprendizagem, ou seja, o que se espera que os estudantes possam alcançar para, assim, definir quais instrumentos podem auxiliar. Desta forma, o docente precisa planejar e selecionar diferentes recursos digitais e aplicá-los em diversas experiências educacionais, gerindo o aprendizado a partir da tecnologia e sua implementação eficiente. 

Conhecer, selecionar, dominar e utilizar, de forma autônoma e dinâmica, os recursos tecnológicos, a favor do processo de ensino-aprendizagem, é uma das competências do docente neste novo cenário. Se pressupõe que ele os utilize para resolver problemas reais da sala de aula de maneira customizada, personalizada e ágil.

MB – Você considera que os docentes e gestores estão conectados e preparados para o uso desses recursos tecnológicos na educação? Se não, o que falta?

Karina Tomelin – Acredito que estamos conectados. Preparados, eu não tenho tanta certeza, pois é preciso saber transformar o uso das tecnologias em prática pedagógica, em hábito, não somente em situações esporádicas, em que a aula tenha que migrar para o remoto, por exemplo. Pressupõe fluência por parte dos professores. 

Em um país com realidades tão diferentes, como o Brasil, fica difícil generalizar. Mas com certeza, há professores que desenvolveram suas competências digitais e que reconhecem seus benefícios, tanto na otimização dos dados de aprendizagem, na organização de processos e do tempo, no engajamento dos estudantes, como também na melhora do desempenho

 MB – Como capacitar os professores para que compreendam seu papel de mentores do processo de ensino e aprendizagem, favorecendo o sucesso do estudante? 

Karina Tomelin – Professores precisam reconhecer a necessidade de mudança e ressignificação da docência. Mas, para isso, também devem ser apoiados. As escolas e instituições, ao desenharem novos modelos de ensino, devem envolvê-los, desde a concepção até a implantação. Há muitos professores que se esforçam cotidianamente para pensar em como fazer aulas melhores, porém nem sempre conseguem feedbacks assertivos ou direcionados sobre como melhorar.

Boas práticas merecem ser valorizadas e reconhecidas e os docentes precisam ser sensibilizados de que estar na sala de aula exige aprender constante, seja com formação continuada, com apoio da coordenação pedagógica, ou compartilhando suas experiências com outros colegas. Se desejamos professores mentores, que atuem de forma personalizada com o estudante, também devemos oferecer formação que reflita o mesmo modelo. 

MB – Em uma de suas entrevistas, você citou a APD (Aprendizagem Baseada no Design) para o ensino EAD. Pode explicar esse conceito?

Karina Tomelin – Criei esse conceito para descrever como podemos potencializar e engajar o estudante no processo de aprendizagem digital, considerando o tripé do design: Educacional, Universal e Gráfico. 

O Design Educacional aqui é compreendido como a tradução da concepção pedagógica e institucional nos recursos de aprendizagem digitais. A identidade pedagógica adotada, por meio dos ciclos de conhecimento da trilha, configurará a jornada de aprender do estudante. São as vivências e experiências digitais que encontrará durante a formação, previstas no desenho da sua trajetória, alinhada à missão e valores institucionais no processo de ensino e conhecimento. 

O Design Universal (DUA) garantirá a acessibilidade e as experiências múltiplas, considerando diferentes perfis de estudantes. Por meio da utilização de recursos digitais, o aprendizado será menos exclusivo e mais inclusivo, garantindo o acesso aos multimeios de aprendizagem. Estes, por sua vez, ampliam a experiência do estudante já que otimizam recursos visuais, auditivos, textuais compondo diferentes formas de interação com o mesmo conteúdo. 

O Design Gráfico associa a concepção visual e a identidade comunicacional com o apelo estético. Essa metodologia é traduzida e alinhada com o design gráfico, que personaliza, customiza e engaja o aprender por meio de estratégias estéticas para uma economia da atenção. 

“As tecnologias digitais precisam ser incorporadas ao ensino presencial. No retorno à presencialidade, elas não devem ser abandonadas, mas precisarão ser ressignificadas, readaptadas”

MB – Como os educadores podem estimular o interesse dos estudantes para a leitura? As bibliotecas digitais podem ajudar nesse contexto

Karina Tomelin – Mariane Wolf (2019) publicou o livro “O cérebro no mundo digital”, em que discute os desafios e mudanças da leitura na nossa era. Pesquisadora há mais de 10 anos sobre o cérebro leitor, ela afirma: “seres humanos não nasceram para ler”.  A aquisição desta habilidade é uma das grandes façanhas do Homo Sapiens. Tal ato acrescentou um circuito inteiramente novo no nosso cérebro, mudando conexões e transformando a natureza do pensamento humano. Assim, para ela, é um erro achar que a leitura é um ato natural e simples aos seres humanos, como a linguagem oral. Para a maioria de nós, essa invenção cultural precisa ser ensinada. 

A era digital, no entanto, está impondo mudanças na nossa forma de ler. Ao mesmo tempo em que nunca se leu tanto, a velocidade das informações e a leitura fragmentada tem afetado a cognição, especialmente dos mais jovens. O ler apressado, quando normalizado, torna-se um problema, já que piora nossa capacidade de entendimento e análise.

Ter essa compreensão sobre o nível de leitura e a qualidade do pensamento dos nossos alunos é fundamental. Por isso, estimular o estudo profundo, organizado e interpretativo é tão necessário. Seja por meio de livros físicos ou virtuais, existem algumas formas de estimular a leitura na sala de aula. Selecionei sete dicas aqui para os professores: 

  • Comece por você. O que está lendo? O que gosta de ler? Quando e onde lê? Descubra sua leitura favorita. 
  • Experimente ler livros físicos e virtuais.  
  • Demonstre aos estudantes seu gosto pela leitura, citando autores, obras e pensamentos. 
  • Introduza a leitura na sua aula, seja de um pequeno trecho ou solicitando esse hábito em casa. 
  • Selecione livros que estejam conectados com o perfil de estudantes da sua turma.  
  • Ensine-os a ler de forma aprofundada, interpretando, compreendendo e sintetizando as ideias do autor.
  • Associe a leitura a alguma atividade como: sarau, criação de blogs, utilizando arte, teatro ou tecnologias.  

MB – Num cenário imprevisto de pandemia, quais foram os grandes desafios e as lições que os educadores puderam aprender nos últimos dois anos? 

Karina Tomelin – Sem dúvida houve muitas lições e que não podem ser esquecidas por nós professores. Eu selecionei três. A primeira delas é que as tecnologias digitais precisam ser incorporadas ao ensino presencial. No retorno à presencialidade, elas não devem ser abandonadas, mas precisarão ser ressignificadas, readaptadas, já que seu uso, muitas vezes estarão relacionados a outro fim.  

A segunda é que as relações interpessoais ampliam as experiências e compõem o aprendizado. O período de isolamento foi muito sofrível, especialmente para as crianças e adolescentes em formação, muitos deles privados do contato com pares. No retorno há um desejo de reconexão e uma valorização das experiências presenciais trazidas pela escola. Ou seja, além de aprender conceitos, a escola ou faculdade é um lugar para fazer amigos, conhecer pessoas, ampliar o network.

E, por fim, algo que não devemos esquecer é que atualmente podemos aprender em diferentes espaços. A sala de aula não é mais um ambiente exclusivo para se aprender. Assim, é importante o professor ampliar o seu olhar para diferentes lugares, sejam físicos ou virtuais, para desenvolver estratégias diversificadas de aprender.  

MB – O que esperar de 2022 e como enxerga o futuro da Educação no Brasil?

Karina Tomelin – Acho que ainda vamos viver um momento muito tenso e ambíguo na Educação. Como uma fotografia ainda não revelada, um adolescente em formação. Não somos mais a escola tradicional, mas também não temos muitas pistas da construção da escola digital inovadora. Há um desejo de inovar, mas o velho, o antigo e normal se sobrepõe, com uma força secular, de que “a escola sempre foi assim”. 

Eu enxergo muitas possibilidades na Educação. Apesar de todas as transformações geradas pela era digital, aprender é e sempre será uma necessidade humana. Não tenho dúvidas de que professores são e serão fundamentais na organização de saberes, na motivação ao aprender, no acolhimento, na organização de feedbacks.  Dentro deste cenário, acredito na formação continuada, no apoio aos professores e na construção colaborativa desta nova identidade docente. 

Recursos da MINHA BIBLIOTECA

Atenta às necessidades dos estudantes para o reforço dos estudos e o combate à ‘curva do esquecimento’, a Minha Biblioteca oferece compartilhamento de Realces dos e-books – recurso disponível a todos os usuários da plataforma. As Notas, sempre vinculadas aos realces, e os Cartões de Estudo também são ferramentas que merecem destaque, pois auxiliam na fixação da leitura, facilitam o aprendizado e a revisão dos conteúdos.  

Segundo Yael Hendlder e Hyngryd Goulart, da equipe de TI e Sucesso do Cliente, o foco do trabalho é sempre inovar, por isso foi inserida na plataforma a função BETA, onde os usuários podem testar recursos e fornecer feedbacks sobre esse uso. Desta forma, é possível aperfeiçoar e acrescentar mais ferramentas. 

Os usuários da Minha Biblioteca podem acessar o Link do tutorial: Tutorial-offline.pdf – Google Drive para utilizar os Recursos de Estudo.

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