‘A missão maior de um educador é provocar seus alunos para que façam a diferença na sociedade’

Os avanços tecnológicos, sua aplicabilidade e reflexos na Educação são abordagens do terceiro artigo do Especial Mês do Professor, numa conversa do Blog da Minha Biblioteca com o Eng. Dr. Luís Humberto de Mello VillwockEspecialista em Desenvolvimento de Ecossistemas de Inovação, com ênfase em territórios e agronegócios.

Também um dos autores do livro As cidades e o futuro: modelo de pacto de inovação (Grupo A | Bookman)disponível na Minha Biblioteca – ele chama a atenção para o fato de que há muitos exemplos de tecnologias que não necessitam de equipamentos, mas de processos pedagógicos que colocam o estudante como o principal protagonista de sua aprendizagem, tendo o professor como um tutor/moderador do desenvolvimento de sua construção acadêmica. Confira.

MB – Como as transformações tecnológicas do séc. XXI têm impactado positivamente na transmissão do conhecimento? Quais experiências com os estudantes têm surpreendido? 

Luís VillwockTrazendo uma enormidade de novos recursos e referências para ampliar o escopo de conhecimento, com o emprego de menor gasto de recursos como tempo, deslocamento, acesso, assincronicidade, entre outros fatores. São várias as experiências, desde as propostas de novos serviços, baseados em modelos de negócios globais, até o acesso de maiores evidências de dores levantadas por pesquisas na internet e de campo, quantitativas e qualitativas.

MB – Quando se pensa em inovação se associa, automaticamente, os avanços tecnológicos a áreas mais técnicas. Como extrapolar este conteúdo e recursos digitais para Educação e para sala de aula? A responsabilidade é só dos docentes ou das IES também? 

Luís Villwock Com certeza a responsabilidade é distribuída a todos. Há uma série de novas tecnologias educacionais que não estão restritas à questão de digitalização de procedimentos. Educação baseada em problemas/desafios, sala de aula invertida e metodologias ágeis são todos exemplos de tecnologias que não necessitam de equipamentos, mas de processos pedagógicos que colocam o aluno como o principal protagonista de sua aprendizagem, tendo o professor, como um tutor/moderador do desenvolvimento da sua construção acadêmica, na maioria dos casos, coletiva.

MB – Os estudantes com interesse por cursos como Ciência da Computação, ou áreas afins, têm maior facilidade com metodologias mais tecnológicas ou a base estrutural de ensino é igual para todos, independente do curso?

Luís Villwock É independente do curso. O uso de recursos computacionais auxilia sobretudo na busca rápida de referências e na organização do trabalho a ser desenvolvido, tanto individualmente, como coletivamente. Hoje, a maior parte dos jovens já é de nativos digitais. Logo, este ambiente é prática usual do seu dia, sobretudo no uso das redes sociais em seus relacionamentos.

MB – A procura por cursos das áreas de TI tem crescido? Quais as temáticas estão sendo mais exploradas ou ofertadas? Essa busca está vinculada às necessidades do mercado de trabalho?

Luís Villwock Não tenho dados objetivos para responder esta questão sobre o crescimento de cursos, mas o fato é que as oportunidades têm aumentado muito, uma vez que o mundo digital passa a fazer parte, cada vez mais presente, no cotidiano das pessoas. Os setores reclamam da oferta insuficiente de pessoas qualificadas e, com a globalização de processos, a barreira de trabalho derruba fronteiras físicas, podendo um profissional morar em um país e trabalhar para uma companhia em outro e ser remunerado por um terceiro. Esta mobilidade tem trazido inúmeros desafios para as organizações mundo afora.

MB – Hoje se propaga que a formação de um profissional deve aliar habilidades técnicas e competências socioemocionais. São a base do ensino-aprendizado atual? 

Luís Villwock Não resta a menor dúvida quanto a esta sentença. O mercado exige profissionais completos que conciliem hard skills com soft skills. Em muitos casos, há algumas empresas de alta performance que se tiverem que priorizar competências, escolhem as soft skills, bem mais difíceis de aprimorar indoor. As competências técnicas são muito mais fáceis para uma aprendizagem adicional “in company”. Soft skills muitas vezes são adquiridas de “berço”, ou seja, nas relações familiares, desde a tenra idade. Todavia, a cultura organizacional pode reforçar valores relacionais fundamentais para garantir a necessária conexão interdisciplinar.

MB – Caminhos de ensino mais atraentes como práticas de metodologias ativas; professores monitores; aplicação de projetos vinculados à recuperação da aprendizagem e conhecer a real necessidade do estudante são estratégias eficazes?

Luís Villwock Com certeza, como já mencionei alguns aspectos desse cenário atual. Este é um pacote de estratégias que veio para ficar, pois deve-se cativar e envolver o estudante pela pertinência e pertença, incentivando-o para analisar e entregar potenciais respostas ao mundo real, de preferência, do seu entorno. É preciso fazer sentido para ele, pois tudo ao seu redor estará constantemente o convidando para outras tarefas e “distrações” com potencial de atração muitas vezes maior do que aquilo que lhe é proposto em “sala de aula”.

“Fazer parte de uma biblioteca digital, de reconhecida relevância, é um justo prêmio de reconhecimento a aquilo que se pretende contribuir para o aprendizado permanente da cidadania”

MB – Com foco nos professores, há também uma necessidade de motivação, como a busca de outras qualificações? O propósito do educador está se reformulando na transmissão do conteúdo?

Luís Villwock O mercado está em permanente mutação, à medida em que os recursos e as demandas são crescentes e mais complexos. O docente que não buscar estar atualizado, tanto com as questões do momento e que afetem o mundo real, quanto se não tiver apropriação de metodologias e ferramentas adequadas para lidar com tamanha complexidade e interdisciplinaridade, será fortemente questionado pelos próprios estudantes,  que hoje têm amplo acesso e aprendem nas plataformas digitais disponíveis na web.

MB – As plataformas digitais são relevantes neste contexto do aprendizado para um ambiente mais favorável no direcionamento de conteúdos, autoestudo e protagonismo dos estudantes? 

Luís Villwock Existem inúmeras plataformas interessantes, o que me impede  de fazer uma referência a apenas uma ou outra. Vivemos um período de abundância e excesso de informações de razoável qualidade de entrega, ao mesmo tempo em que há conteúdos de duvidosa procedência e intenção não comprometidos com a evolução da sociedade. Ou seja, o desafio não é acompanhar/servir-se desta ou daquela plataforma, mas sim, realizar um permanente exercício de curadoria, capaz de sugerir plataformas consistentes, relevantes, assertivas, competentes para buscar disseminar os conhecimentos necessários à evolução de carreiras profissionais, assim como projetos de desenvolvimento sustentável exitosos.

MB – Como avalia a importância das bibliotecas digitais? Quais os benefícios, ao integrar estas plataformas para proporcionar o aprendizado completo? E para os autores é relevante ter sua obra no catálogo? 

Luís Villwock São de fundamental importância, pois justamente é um “locus” de curadoria necessária para separar o joio do trigo. Fazer parte de uma biblioteca digital, de reconhecida relevância, é um justo prêmio de reconhecimento a aquilo que se pretende contribuir para o aprendizado permanente da cidadania.

MB – Um dos objetivos do seu livro, em parceria com outros autores, As cidades e o futuro: modelo de pacto de inovação é compartilhar experiências e metodologias que podem auxiliar na implementação dos chamados ‘pactos de inovação’. Com inserir essa abordagem no contexto da Educação? 

Luís Villwock Esta é uma pergunta muito abrangente e que exigiria uma reflexão bem mais profunda, pois as estratégias são muitas, o que está revelado detalhadamente no livro em questão. Fundamentalmente descreve as sete etapas de um longo percurso de trabalho coletivo, envolvendo academia, governo, empresários e sociedade civil organizada. 

O diferencial da proposta da obra vai além, pois realizou-se um grande esforço para tangibilizar a utilidade desta metodologia, através de aplicações reais desta longa jornada, detalhando a sua execução em quatro regiões icônicas da Europa e América do Sul: Barcelona, Medellín, Porto Alegre e o estado de Santa Catarina como um todo. 

É evidente que a agenda da Educação é a estratégia central para transformar conhecimento em desenvolvimento. Se a população de um determinado território qualquer não está suficientemente educada, tanto para a absorção de informações relevantes, quanto para gerar projetos de impacto positivo para a sociedade e seu entorno, a partir destes conhecimentos apropriados, estará comprometida. Desta forma, poderíamos afirmar que a tarefa estruturante principal de qualquer Pacto de Inovação Territorial não foi adequadamente executada.

MB – Que mensagem daria aos professores, responsáveis pela formação dos futuros profissionais e cidadãos?

Luís Villwock Coragem e resiliência para continuar acreditando na missão maior de um educador:  provocar seus alunos para que façam a diferença na sociedade, respeitando as múltiplas diversidades, minimizando as desigualdades, promovendo melhores práticas de intervenção social, ambiental e econômica; acessando os recursos disponíveis e necessários para tamanho desafio. 

Finalmente recomendaria a prática de compartilhar experiências e metodologias entre os pares, tanto de sucesso quanto de fracasso, sempre orientado a garantir qualidade de vida pessoal e familiar para si e para comunidade na qual está inserido.

*A opinião dos entrevistados não expressa, necessariamente, o posicionamento do Blog da Minha Biblioteca.

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