Tablets, lousas interativas, aplicativos desenvolvidos especialmente para educação… A tecnologia chegou para ficar nas salas de aula e exige que a escola e os professores se adaptem aos novos tempos. Para o professor José Moran, doutor em Comunicação pela Universidade de São Paulo (USP) e diretor de Educação a Distância da Universidade Anhanguera-Uniderp, apesar de tantas possibilidades, a educação ainda se encontra em uma fase de transição complicada.
“Já não aceitamos o modelo industrial (embora mantenhamos muitas de suas estruturas organizacionais e mentais), mas também percebemos que não participamos plenamente da sociedade do conhecimento; só incorporamos alguns dos seus valores e expectativas. A implantação das tecnologias nas escolas segue, em geral, três etapas. Na primeira, elas são utilizadas para melhorar os processos consolidados, automatizando-os, digitalizando documentos e com isso otimizando o desempenho e os custos. Na segunda etapa, a escola insere parcialmente as tecnologias no projeto educacional. Abre laboratórios conectados à Internet, cria uma página para divulgar sua proposta, seus cursos e alguns aplicativos de pesquisa e comunicação. Na terceira, que começa atualmente, com os avanços da banda larga e da mobilidade, as escolas estão repensando seu projeto pedagógico, seu plano estratégico e introduzem mudanças significativas como a flexibilização parcial do currículo, com atividades online combinadas com as presenciais. Essa nova escola se tornará mais visível nos próximos anos, com a chegada da geração digital à vida profissional”, explica.
A pesquisa TIC Educação 2012, realizada pelo Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI.br), traça um panorama do uso das tecnologias no ambiente escolar brasileiro e mostra na prática que realmente ainda temos que avançar. A amostra da pesquisa foi composta por 856 escolas públicas e privadas do Brasil, selecionadas a partir do Censo Escolar do Ministério da Educação (MEC) e do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (INEP) 2011. Foram entrevistados professores de Português e Matemática, alunos do Ensino Fundamental I, Ensino Fundamental II e Ensino Médio, coordenadores pedagógicos e diretores. A pesquisa revela que cresce a presença de computadores portáteis nas escolas públicas, mas a velocidade ainda se mostra como uma limitação importante. O número de equipamentos disponíveis por aluno também é outro fator limitante para o uso efetivo do computador e da Internet nas atividades escolares.
“Observamos um crescimento da infraestrutura, mas ainda está longe do ideal, principalmente na escola pública. A política do Governo Federal de ter um computador por aluno é importante, porém, precisamos de mais iniciativas. Capacitar o professor também é outro grande desafio. Cerca de 99% dos professores são usuários de Internet e muito têm computador em casa, mas na escola é o lugar onde eles menos usam tecnologia. O aluno já chega na sala de aula sabendo mais do que o professor”, ressalta Alexandre Barbosa, gerente do Centro de Estudos sobre as Tecnologias da Informação e da Comunicação (CETIC.br), ligado ao CGI.br.
Para o professor Moran, nessa nova era educacional já não cabem a acomodação e os roteiros prontos. “Temos muitos professores que preferem receber tudo pré-formatado e não ter que planejar nem preparar detalhadamente cada aula e atividade. Isso explica o sucesso dos sistemas de ensino que oferecem aulas prontas sobre todas as matérias da Educação Básica. Os programas de formação continuada são importantes, primeiro no domínio técnico, depois no domínio pedagógico, nas aplicações possíveis dentro das metodologias escolhidas por cada escola e por cada profissional. Os programas de capacitação não podem ser ocasionais, mas continuados, com certificação”, destaca.
De acordo com a pesquisa TIC Educação 2012, é maior a presença de computador e Internet nos domicílios dos alunos. Entre os alunos das escolas públicas, 62% possuem computador em casa. Houve também crescimento dos alunos que fazem uso da Internet pelo celular (44% entre alunos do ensino público e 54% no ensino privado). É igualmente crescente a proporção de alunos que declaram ter aprendido a usar o computador e/ou a Internet sozinhos. Pela primeira vez, desde 2010, a forma de aprendizado mais citada foi “aprendeu sozinho”. Mas, será que a tecnologia não deixa o estudante disperso? Isso depende de como ela será utilizada, explica Moran.
“A inserção no mundo das tecnologias conectadas é um caminho importante para preparar as pessoas para o mundo atual, para uma sociedade complexa, que exige domínio das linguagens e recursos digitais. Em educação não podemos esperar que todos os outros problemas sejam equacionados, para só depois ingressar nas redes. O uso coerente das tecnologias atuais contribui para facilitar e ampliar as formas de pesquisar, comunicar-se e divulgar os resultados, mas também há problemas como dispersão, superficialidade e acesso prematuro a conteúdos violentos e inadequados. O ideal é que estas tecnologias Web 2.0 – gratuitas, colaborativas e fáceis – façam parte do projeto pedagógico da instituição para serem incorporadas como parte integrante da proposta de cada série, curso ou área de conhecimento. Quanto mais a instituição incentiva o trabalho com atividades colaborativas, pesquisas, projetos, mais elas se tornarão importantes”, diz o professor.
Moran destaca alguns programas e aplicativos que podem tornar o aprendizado mais interessante:
“Os aplicativos mais interessantes que conheço ajudam no aprendizado de línguas. Cursos inteiros podem ser acompanhados por podcast ou vídeos, com testes adequados e ambientes de colaboração como os que acontecem em redes sociais. Gosto, por exemplo, do LearnEnglish do British Council com histórias em capítulos, jogos, desafios e integração com Facebook e Twitter. Outro semelhante é o ESLPod com histórias do cotidiano e explicações das principais expressões em ritmos diferentes. Tem aplicativos como o Stitcher que organiza os programas de rádio epodcast por temas e línguas e são extremamente variados e atualizados e podem ser acessados a qualquer hora e de qualquer lugar. O My Class Schedule é um aplicativo para que o estudante organize horários de estudo, notas e todas as informações do seu curso. A tendência é a de termos muitas mais soluções para todas as nossas necessidades. O que nunca pode faltar é a vontade e o gosto por aprender”, ressalta.
No futuro, Alexandre Barbosa acredita que a tecnologia vai mudar o papel da escola e do professor.
“A construção do conhecimento será coletiva. A escola precisa repensar seu espaço e o professor também, pois, cada vez mais, seu papel é de mediador. Os projetos pedagógicos nasceram quando existia somente o quadro negro e o giz. Acho que as novas tecnologias vão transformar radicalmente a escola, e estamos só no começo dessa revolução”, completa o gerente do CETIC.br.
Adaptado via Globo Educação