Para encerrar o Especial Mês do Professor e comemorar o Dia do Dentista, em 25 de outubro, o Blog da Minha Biblioteca convidou a Dra. Angela Scarparo. Graduada em Odontologia, com especialidade em Odontopediatria e Professora Associada do Instituto de Saúde de Nova Friburgo da Universidade Federal Fluminense (ISNF/UFF), é também autora do livro Odontopediatria: Bases teóricas para uma prática clínica de excelência (2020-Manole) – disponível na Minha Biblioteca.
Nesta conversa, se destacam os desafios para discentes e docentes, a importância das novas metodologias do ensino-aprendizado, nas aulas teóricas e práticas, e os contínuos avanços na Odontologia. Este cenário sinaliza uma importante evolução dos processos pedagógicos de formação e qualificação na área, com foco no atual perfil do estudante: dinâmico e geracional.
MB – Nos atuais caminhos propostos no ensino, em todas as áreas, inclusive na graduação e pós em Saúde, como a inovação tem contribuído neste processo?
Angela Scarparo – Acredito que a inovação e a utilização de metodologias ativas de aprendizagem estejam alinhadas com o entendimento de que o professor não deve ser o detentor do conhecimento, em um papel centralizado, mas sim o responsável por nortear o estudante na busca da informação. Essa adequação é de responsabilidade do docente, reconhecendo sua importância no processo de ensino-aprendizagem. Já a responsabilidade das IES é dar subsídios e suporte ao docente para que ele oportunize o ensino de qualidade.
MB – A Odontologia sempre exige muita dedicação dos professores. O que os tem estimulado a se reinventar na carreira?
Angela Scarparo – Nosso maior estímulo é reconhecer que o perfil do estudante é dinâmico, geracional e que a metodologia utilizada há alguns anos pode não ser efetiva nesse momento. Estamos sempre buscando aprimorar nossa formação, quer seja pelo melhor entendimento de como a Educação deve ser apreendida e aplicada nos dias de hoje, como também compreender como as transformações digitais podem nos auxiliar.
MB – Essa transmissão do conhecimento tem sido facilitada com as ferramentas digitais, pensando em engajamento e dinâmica em sala? Isso acontece apenas com o conteúdo técnico-teórico ou prático também?
Angela Scarparo – A tecnologia é sempre bem-vinda. Contudo, precisamos reconhecer que o excesso de utilização de recursos tecnológicos pode gerar uma dinâmica cansativa para o estudante. Assim, acredito que mesclar as abordagens de ensino teórico-clínico e laboratorial seja o mais interessante.
Para nós, na Odontologia, este avanço ocorreu em todas as práticas pedagógicas. Uma experiência interessante tem sido estimular que o estudante seja o “professor”, o protagonista, isto é, que ele produza conteúdo para divulgação entre os acadêmicos (de semestres anteriores) e nas redes sociais. Essa atividade o coloca como detentor do conhecimento e, por essa razão, capaz de multiplicar o aprendizado.
MB – A Odontologia passa por uma constante evolução tecnológica que requer aperfeiçoamento contínuo do cirurgião-dentista. Estes profissionais têm se preocupado com o lifelong learning?
Angela Scarparo – Com certeza. A Educação Continuada é uma realidade para nós, em especial pela velocidade da informação gerada e conhecimento adquirido nas diversas especialidades da Odontologia. Sabendo dessa importância, o aperfeiçoamento tem se fortalecido desde a graduação, com a formação das Ligas Acadêmicas, partindo da iniciativa dos próprios alunos e de um professor-tutor, como também pela implementação dos Programas de Educação Tutorial (PET), com incentivo do MEC. A existência de cursos de atualização e aprimoramento garantem um consecutivo aprendizado e mantem a qualidade do serviço prestado à comunidade.
“Penso que manter o interesse do estudante esteja diretamente relacionado com a capacidade do docente em ser o mediador do ‘encontro’ entre o aluno com o conteúdo ministrado.”
MB – Como avalia o momento atual no ensino-aprendizado da Odontologia e, em particular, em Odontopediatria?
Angela Scarparo – Nosso retorno pós-pandemia tem sido um desafio, pois estamos reorganizando o espaço de convívio coletivo – salas de aula, laboratórios pré-clínicos e as clínicas – além de tentar suprir a demanda reprimida relativa aos atendimentos à população. A cada semestre avançamos um pouco mais na rotina de biossegurança e no entendimento de que o ensino poderá ser complementado pela tecnologia, além de ser presencial. Reconhecemos a importância do professor nesta mediação e os alunos ressignificaram a importância de fazer parte deste processo de ensino-aprendizagem.
Os anseios referem-se ao medo do tempo não vivido, nos últimos 2 anos, repercutir na aprendizagem teórica e na habilidade técnica. As expectativas são as melhores. Todos: gestores, professores e estudantes focados em garantir a melhor qualidade no ensino-aprendizado e treinamento prático.
Quanto ao diferencial para aqueles que pretendem se especializar em Odontopediatria, a pandemia reforçou a importância deste especialista, pois aqueles que tinham como natural as consultas periódicas, sabiam quais eram as medidas necessárias para prevenção e controle da cárie. Hoje vivemos um processo de retomada desta rotina, que é essencial para a manutenção da saúde das crianças.
MB – No seu livro Odontopediatria: Bases teóricas para uma prática clínica de excelência se busca uma aplicação prática dos conhecimentos no dia a dia do consultório. Esta orientação também vale para as salas de aula e como um parâmetro para o docente, durante a formação acadêmica?
Angela Scarparo – Sem dúvida. Nós professores procuramos demonstrar a aplicabilidade clínica do conhecimento ministrado, fortalecendo a transversalidade e interdisciplinaridade dos conteúdos. A avaliação continuada do aprendizado dos estudantes evidencia se estamos alcançando nossos objetivos.
MB – A Odontologia é apontada como o segundo curso mais procurado do Brasil. Entender as reais necessidades deste estudante faz a diferença para manter seu interesse até o final da graduação ou há muita evasão, considerando o alto valor do curso?
Angela Scarparo – O perfil mudou, conhecer os alunos é primordial para que não só o professor, mas a instituição saiba as suas necessidades para permanência e conclusão do curso. Penso que manter o interesse do estudante esteja diretamente relacionado com a capacidade do docente em ser o mediador do “encontro” entre o aluno com o conteúdo ministrado. Percebo que a evasão tem uma maior relação com questões financeiras do que com o curso em si. Por isso, políticas públicas poderiam ser direcionadas nesse sentido.
MB – Uma grade curricular ou um plano de aula com metodologias ativas no ensino-aprendizagem impactam na formação de um cirurgião-dentista mais capacitado?
Angela Scarparo – Devemos lembrar que todo esforço gerado por professores, monitores e propostas pedagógicas inovadoras, podem proporcionar um melhor aprendizado e a formação de um profissional mais capacitado é sempre válida.
MB – Como as plataformas digitais podem dar suporte no aprendizado, criando um ambiente mais favorável à absorção do conhecimento e estímulo ao protagonismo do estudante?
Angela Scarparo – As plataformas garantem o acesso à informação, em todas as áreas, inclusive na Odontologia. São centenas de livros disponíveis, com títulos contemporâneos e atualíssimos. Acredito que este cenário seja o de maior estímulo atualmente. Cabe ao professor reforçar o privilégio desta realidade e ao estudante reconhecer que o protagonismo depende do esforço dele em usufruir as muitas ferramentas que estão acessíveis para que possa aprimorar seus conhecimentos.
MB – De que maneira as bibliotecas digitais podem apoiar na construção do conhecimento do estudante e do docente, em sala de aula e em estudos complementares?
Angela Scarparo – Se considerarmos que o professor deve ser o norteador neste processo de ensino-aprendizagem, como já mencionei, ter acesso irrestrito à informação, como ocorre com as bibliotecas digitais, é a garantia de que ambos poderão construir e difundir conhecimento, através de uma diversidade de literatura.
MB – Tem sido comum destacar que, além da relevância de uma formação técnica-profissional, para o estudante é essencial conhecer e desenvolver suas competências socioemocionais. Vale também para Odontologia?
Angela Scarparo – Certamente são fundamentais. As novas Diretrizes Curriculares Nacionais em Odontologia apresentam claramente a importância desta competência na jornada acadêmica do futuro cirurgião-dentista. Garantir a formação de um profissional da saúde com entendimento sobre empatia, responsabilidade, análise crítica, ser proativo, reflexivo e com características de liderança e gestão favorecem o adequado exercício da profissão, da manutenção da qualidade do serviço e do ambiente de trabalho.
MB – Que mensagem diria para os professores de especialidades médicas, que preparam os estudantes para uma jornada profissional, com precisão técnica, mas que envolve um ponto tão sensível como a saúde das pessoas?
Angela Scarparo – Há muitos desafios pela frente. Por isso, continuem nesta caminhada. Nós da Odontologia estamos atentos e aprendendo muito e sempre, com todos os professores, na nossa graduação, novas qualificações e ao longo de toda nossa carreira. Se aprimorar e acompanhar todos os avanços médicos e tecnológicos é essencial para prestar um atendimento de qualidade. Cada “passo” que vocês docentes dão nesta formação ética-crítica-humanística e reflexiva nos serve como base e estímulo.
*A opinião dos entrevistados não expressa, necessariamente, o posicionamento do Blog da Minha Biblioteca.
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