É fato que as Instituições de Educação Superior (IES) estão se redesenhando quando se pensa na relação ensino e aprendizagem. E está claro que a tecnologia se insere neste traçado, com ênfase ou mais discrição. Porém, para este novo cenário ter representatividade, não basta apenas ter acesso aos recursos, é preciso integrar todos os envolvidos nesse processo: gestores, docentes e estudantes.
Por isso, administrar o gigantesco volume de dados que chega constantemente, de diferentes canais, exige um olhar mais profundo e estratégico, além de uma tecnologia que possibilite a integração de todas as modalidades de ensino.
Um dos maiores desafios é fazer com que toda a informação e aparato tecnológico sejam aplicados em um contexto educacional para potencializar o processo de ensino e aprendizagem, tanto presencial, como na modalidade a distância.
Nesse sentido, os AVAs (Ambientes Virtuais de Aprendizagem) abrem espaço para distribuição de conteúdo e interações essenciais no processo educacional. Neles, os papéis dos docentes e discentes são redefinidos. Cabe aos professores o protagonismo de atuar como incentivadores de novas práticas, para aproveitar adequadamente essa tecnologia. Já os estudantes se tornam mais ativos na construção do conhecimento, estabelecendo relações, colaborando com os colegas e socializando pensamentos e projetos.
Na UNIFIO (Centro Universitário das Faculdades Integradas de Ourinhos), parceira da Minha Biblioteca, desde 2018, o Ambiente Conhecer é a plataforma virtual de aprendizagem utilizada na Instituição. É neste espaço que está inserido o acervo virtual da Minha Biblioteca que, por meio de uma API (Application Programming Interface) bem simples, permite que diferentes LMS/Portais e Gerenciadores de acervo se integrem ao webservice e tenham acesso ao amplo catálogo de ebooks disponíveis na biblioteca virtual.
Segundo Gilson Aparecido Castadelli, Coordenador de Educação a Distância e NTEA-UNIFIO – periodicamente, coordenadores e professores participam de capacitações para compreender o potencial disponibilizado no acervo online e repassam informações aos estudantes, sobre a facilidade de acesso e a quantidade de obras disponíveis, devido à escalabilidade de uso do material digital. Tanto na modalidade a distância como presencial, o recurso é acessível e soma em eficiência, pela facilidade de uso e disponibilidade em diferentes dispositivos móveis.
Momento de adequações
Embora a proximidade com as ferramentas tecnológicas seja inerente à prática na EaD, durante o isolamento social exigido pela pandemia, os recursos digitais também passaram a fazer parte de um processo de migração para os cursos presenciais, para viabilizá-los a milhares de estudantes longe das universidades.
“Acredito que este período jogou holofotes no uso da modalidade à distância, não só no meio acadêmico, mas também no universo do trabalho em casa (Home Office). Um novo tempo começa, pois todos perceberam vantagens e desvantagens de um mundo vivido com base na comunicação digital. O aprendizado foi imenso e o que deve ser tirado de toda essa vivência são as boas práticas percebidas e experienciadas”, analisa Castadelli.
Para ele, é impressionante observar que, de uma hora para outra, foi preciso criar uma força-tarefa gigantesca para se adaptar às mudanças oriundas de uma situação externa, que impactou todos os tipos de negócios. “Não fosse tal situação, talvez essa percepção de agilidade em execução de processos nas organizações, economia em logística, uso de tecnologias móveis, programas de comunicação, e tantas outras possibilidades, ainda poderiam estar no estágio de “agendamento de um treinamento aos profissionais”.
EaD e suas peculiaridades
Com o olhar direcionado apenas para os cursos na modalidade a distância, Castadelli reconhece os desafios da gestão e destaca pontos imprescindíveis, não só para os Centros Universitários, mas para a maioria das instituições de ensino que trilham por este caminho. “É possível destacar quatro: o engajamento dos participantes no processo de Ensino e Aprendizagem; Tecnologias aplicadas em contexto Educacional; Metodologias Ativas de Aprendizagem e Curadoria de Conteúdo”.
E, mesmo com a modalidade a distância se estabelecendo por pontes tecnológicas, é preciso enxergar além da necessidade de um bom provedor, disponibilidade de computadores no polo e acesso a uma internet de qualidade. “Deve-se saber quais os recursos podem potencializar o processo de ensino e aprendizagem, como os Ambientes Virtuais de Aprendizagem (pagos ou gratuitos), que consolidam o caminhar do aluno por meio de um desenho instrucional, com ferramentas de entrega de conteúdo, abrindo espaço para interações, para que o estudante se torne um agente ativo do processo de aprendizagem. Além do AVA, há outras ferramentas em formato de aplicativos para estimular o estudante nos encontros propostos”.
Castadelli observa que uma biblioteca virtual pode ser um ótimo recurso tecnológico para ampliar a capacidade de pesquisa dos estudantes e professores. Cita também o uso das Salas de Apoio às atividades, conhecidas como Breakout Rooms, presentes em programas de videoconferência. “São formas de potencializar o recurso tecnológico, quando tem seu uso apoiado em uma metodologia de ensino. Mas é importante ter em mente que a tecnologia é meio e não adianta uma coleção de recursos num ambiente educacional, sem considerar como esse ferramental pode ter sua utilização maximizada e bem aproveitada pelos docentes e discentes. A metodologia ativa pode e deve ser utilizada dentro da sala de aula presencial e ações inovadoras também devem ser estimuladas em situações na modalidade a distância e na educação híbrida”.
E, neste universo, existe ainda o papel do Curador de Conteúdo, profissional responsável por zelar pela qualidade da informação selecionada que contribuirá para a formação dos estudantes.
E como alinhar as necessidades dos alunos que optam pela EaD, com a estrutura atual das IES? Para o Coordenador, é possível evidenciar uma estrutura virtual que consolida situações administrativas e pedagógicas, que comporão os alicerces para gerar mobilidade em espaços de resolução de problemas do discente.
Do lado administrativo, são necessários programas que promovam uma visão sistêmica do negócio, como os ERP´s, que são os programas de Planejamento dos Recursos Empresariais e os CRM´s, que gerenciam o relacionamento com os clientes, essenciais para a gestão do empreendimento do ponto de vista interno e da vida do estudante na instituição. Já na perspectiva do Espaço de Aprendizagem, torna-se imprescindível uma boa organização do AVA, pois este concentra materiais em diferentes mídias, sendo o local oficial para registros da efetiva participação e interação dos estudantes no curso. Assim, no Campo Tecnológico, o destaque é a “Integração e Responsividade” dos sistemas de informação.
“O mundo, cada vez mais conectado, com dispositivos menores e mais potentes, abre um conjunto de possibilidades. Redes com sinal livre e de boa qualidade nos polos ou sedes permitem acesso aos programas necessários para a mobilidade nos diversos espaços virtuais que os alunos devem trafegar: Administrativo ou Pedagógico. Já nas matrizes curriculares é necessário um olhar mais profundo em documentos que balizam a construção de projetos pedagógicos de cursos robustos e alinhados com o contexto contemporâneo”.
Aprendizado ao longo da vida
De acordo com Castadelli, o papel do coordenador de curso, docente ou professor tutor, é de fundamental importância, pois são os agentes que realizam a integração de diferentes saberes com seu público-alvo: os discentes. “Não é possível permanecer num universo tão dinâmico, como se tornou o espaço acadêmico, sem perceber a necessidade de desenvolvimento constante, o Lifelong Learning. Temos ferramentas tecnológicas educacionais inovadoras, metodologias ativas de aprendizagem que podem tirar o estudante da posição de passividade crônica. É importante destacar que o uso eficiente dos espaços físicos e virtuais contribuem para a criação de diferentes cenários que aproximam todos os pares de situações reais”.
Para desenvolver um ambiente capaz de proporcionar o máximo de recursos para o estudante ter um aprendizado de qualidade, ele destaca: “Experimentar novas situações de ensino com os discentes pode ser um bom começo para estimular, inclusive, outros professores da instituição. Porém, vale ampliar o conceito de ambiente em dois pontos. O primeiro ligado diretamente ao ambiente virtual de aprendizagem, espaço de troca de saberes e momentos de interação, proveitoso desde que haja uma preocupação com um desenho instrucional que favoreça momentos de estudos individuais e que estimulem alunos a validarem criticamente todas suas experiências de aprendizagem. O segundo, o ambiente de convivência entre estudantes, professores tutores e coordenadores de cursos, onde todos os atores participam ativamente das atividades propostas (Hard Skills) e se envolvem em situações problematizadas, buscando formar por completo um cidadão crítico e atento às necessidades de seu entorno (Soft Skills)”.
O Ambiente Conhecer da UNIFIO
Estruturar o Ambiente Conhecer, como é hoje, teve uma jornada desafiadora na Instituição. “As primeiras investidas no uso de Ambientes Virtuais de Aprendizagem foram feitas em 2005, quando apresentei o MOODLE para um grupo de coordenadores e professores. O apoio da direção e dos coordenadores de cursos foi fundamental para o fortalecimento do uso de tecnologias de apoio às situações educacionais em nossa IES”, relembra Castadelli.
O marco foi em 2012, com a criação do NTEA – Núcleo Tecnológico de Educação Aberta – um departamento que apoia iniciativas pedagógicas de ensino e aprendizado, mediados pelas tecnologias de informação e comunicação. Mas o processo foi longo e envolveu diversas capacitações e encontros com os professores, que começaram a entender a importância de entrar em contato com novas possibilidades tecnológicas, para potencializar suas aulas. “Para quem inicia sua capacitação, pode enxergar num Ambiente Virtual de Aprendizagem apenas um repositório de conteúdo. Entretanto, ele é muito mais que isso quando bem utilizado e integrado com ferramentas educacionais e pautado em metodologias ativas”, alerta o Coordenador.
Durante os últimos anos, foram feitas várias ações no Ambiente Conhecer, onde
se concentravam as capacitações e os professores experimentavam as possibilidades de aplicação dos conhecimentos, antes de colocar em prática com os estudantes. Os docentes treinavam em uma sala modelo, para utilizar os recursos que aumentavam sua autonomia de operacionaliza