Inovação foi a palavra-chave para a Minha Biblioteca em julho. Durante todo o mês, uma série de Painéis Virtuais proporcionou uma intensa troca de informações e experiências de renomados profissionais, para fomentar o debate sobre a Transformação Digital na Educação Superior.

Um dos convidados foi Felipe Morais, que também conversou com o Blog da Minha Biblioteca. Sócio-diretor da FM Consultoria, professor de MBAs e Cursos Livres em faculdades como ESPM, Faap, Senac, USP, Unoesc e Belas Artes, autor de livros como “Planejamento Estratégico Digital e Transformação Digital” (Sarava Uni) e articulista, ele traçou um panorama de como nos comportamos diante dos recursos tecnológicos e nos beneficiamos das ferramentas digitais, dentro e fora da sala de aula. E faz uma provocação: “Não se adaptar às mudanças tecnológicas pode ser um risco para uma forte perda de alunos da Instituição”. Confira. 

MB – O que é transformação digital e como revolucionou a vida pessoas? Quais os prós e contras destas mudanças? 

Felipe Morais – Transformação Digital é um movimento que já vinha acontecendo, mesmo que a gente não tivesse dado esse nome ainda. Cada vez mais as pessoas estão dependentes da tecnologia para tudo. Quer ver o desespero no olhar das pessoas? Peça que fiquem 5 minutos com o celular desligado. Pode parecer um exemplo em forma de piada, mas não, isso diz muito sobre a vida hoje. Pedimos comida pelo celular, assistimos TV pelo mesmo aparelho que usamos para falar com 50 pessoas juntas, em um grupo. E tudo isso ao mesmo tempo e agora. Estamos tão dependentes da tecnologia que, literalmente, só percebemos quando ela nos é tirada. Com isso, todos os segmentos se beneficiam. Pessoas vão comprar um apartamento e pesquisam tudo pelo celular e desktop; TVs estão perdendo audiência para streaming, principalmente as por assinatura com cada dia menos clientes. Escolas migrando para o ensino híbrido. O digital é uma realidade que não se pode lutar contra.

MB – Como o mercado educacional se apropriou dos recursos tecnológicos? Qual o maior impacto e o que faz mais sentido? 

Felipe Morais – Ainda não se adaptou totalmente, mas estamos vendo um caminho. As aulas híbridas não são novidade, mas poucas instituições as adotavam; me lembro de dar aula em 2011, em duas escolas de negócio, que o modelo híbrido já ocorria, mas ainda não vejo em grandes instituições, onde os alunos ainda têm aula com giz e lousa verde. O Ensino Híbrido, portanto, já deveria ter sido implementado antes. Mas agora, com a pandemia, se forçou isso acontecer. Acredito que se está no caminho da mudança, porém ainda sinto que há o pessoal mais tradicional, que teme a mudança, mas isso também não é algo só do mercado educacional. Eu avalio que é um caminho sem volta e arrisco a dizer que não se adaptar a isso pode ser um risco para uma forte perda de alunos da instituição.

MB – As IES têm utilizado de forma adequada todos os recursos tecnológicos, para melhorar o processo de ensino-aprendizado?

Felipe Morais – Ainda não, mesmo com diversas plataformas, startups e modelos digitais fazendo sucesso como o Duolingo, por exemplo. Vemos cada vez mais os jovens antenados no on-line, mas chegando na sala de aula encontram as mesmas metodologias da década de 60.

MB – Como estimular estes estudantes a distância? Quais as melhores ferramentas para isso? 

Felipe Morais – Sou um profissional de Marketing. Nessa profissão, ou trazemos a nossa marca para o universo do nosso público, ou seremos atropelados pela concorrência. Aprendemos que, talvez, nossos maiores concorrentes nem tenham nascido ainda. Até 2013, redes de bancos físicos e tradicionais disputavam entre si o dinheiro das pessoas. Aí surgiu um banco digital que poucos davam importância e, em menos de 10 anos, essa marca já possui mais clientes do que os bancos tradicionais. Falo isso para mostrar que o Nubank trouxe uma comunicação e serviços inovadores na época. Para estimular que os estudantes participem das aulas on-line, basta usar linguagens e ferramentas que eles estão habituados como YouTube, grupos de WhatsApp, aplicativos, streaming. Passar uma apresentação por 50 minutos achando que os alunos estão prestando atenção, com o smartphone ao lado, é ser muito ingênuo. É preciso migrar a linguagem do on-line para as aulas.

“Os podcasts ganharam uma grande repercussão no Brasil em 2021, por exemplo, mas até o momento não vi nenhuma Instituição se apropriando disso”

MB – A gamificação é um recurso interessante para estimular o estudo dos alunos?

Felipe Morais – Os games faturam mais que Hollywood. O segredo dos games é o desafio. Todos nós queremos vencer e, segundo estudos de neuromarketing, nosso cérebro é programado para desafios. Os alunos querem pontos para passar de ano, cada vez mais querem facilidade porque o digital trouxe isso. Se antes para comprar um livro, pegávamos o carro, íamos ao shopping, pedíamos ajuda ao vendedor, preenchíamos um cheque e saíamos com o livro. Hoje, em segundos, acessamos a íntegra do livro, diretamente em uma plataforma, e o lemos no celular. Simples assim. A gameficação pode propor recursos digitais para vencer desafios. E premiar os estudantes com isso, pensando que mais do que dinheiro ou notas, as gerações buscam nas redes o afeto que nem sempre têm em casa. Querem ser reconhecidas.

MB – Como a tecnologia pode colaborar no incentivo à leitura pelos jovens? 

Felipe Morais – No Brasil, lemos 3 livros por ano, na Argentina são 11. O digital pode ajudar no aprendizado, mas com outros recursos como áudio e vídeo, por exemplo. Os podcasts ganharam uma grande repercussão no Brasil em 2021, por exemplo, mas até o momento não vi nenhuma instituição se apropriando disso. E-books são uma forma de leitura mais curta e prazerosa. Os professores têm uma difícil missão, sou um deles e sei o que falo, mas dando um objetivo, por exemplo, ler textos para um trabalho que eles possam ter notas e, também, usar no dia a dia do trabalho, motiva.

MB – O celular é um ‘inimigo’ na sala de aula? Como o professor pode driblar esta conexão full time? 

Felipe Morais – Brinco que começarei a dar aula vestido de iPhone para ver se o pessoal presta atenção em mim. Como leciono marketing digital, malandramente, os alunos dizem que estão pesquisando assuntos e cases que cito em aula; em alguns casos realmente estão, outros dizem que estão anotando o que falo no bloco de notas, e mais uma vez, em algumas vezes estão. Avalio que, em outros cursos e aulas, isso deva ser um padrão, mas sabemos que em muitos momentos os estudantes estão curtindo fotos no Instagram. O caminho é usar isso a favor. Eu sempre peço para pesquisarem no smartphone para usarmos em sala, dou um tempo para isso, raramente algum reclama. Isso estimula o aprendizado. E sendo muito honesto, eu falo a verdade ‘quer ficar no celular, sem problemas, eu sei a matéria, no fim do dia o prejudicado é o aluno’, estamos tratando com adultos, certo? 

MB – Estar 100% conectado é saudável? Quais dicas daria para um equilíbrio pensando nesta geração digital?

Felipe Morais – Nunca foi e nunca será. O celular vicia, ainda mais quando vamos rolando a tela para ver o próximo post. Precisamos de tempo de desconexão, ver um filme, ir a um cinema, andar no parque ou ficaremos doidos. E isso tem que vir logo cedo. As crianças são, hoje, as mais prejudicadas. Vejo pais que dizem que o celular/tablet é o que os faz ter paz. Na verdade, eles estão prejudicando o aprendizado dos filhos e nem sabem.

MB – Como os docentes podem se qualificar para rentabilizar o uso das ferramentas digitais no ensino-aprendizado e até mesmo as redes sociais?

Felipe Morais – Conteúdo é o que move a internet. As pessoas seguem pessoas esperando que essas sejam elas mesmas no digital e no mundo físico. Ser um influenciador exige muita disciplina e uma linguagem própria, para atrair uma audiência fiel; os professores podem se tornar influenciadores com uma linguagem simples, divertida e que ensine.

MB – Com tanta inovação, as IES conseguem preparar os estudantes para o mercado de trabalho?

Felipe Morais – Muito se diz que há várias profissões no futuro que ainda não existem e outras que hoje existem não mais existirão. De fato, isso é algo que fica difícil de cravar uma verdade ou ensinar algo que não existe, mas algo é visível. A tecnologia estará cada dia mais presente em nossa vida e o conselho é estimular isso nos estudantes, independentemente da idade deles.

MB – Ainda não podemos dizer que vivemos uma pós-pandemia, mas caminhamos nesta direção. Neste cenário, como imagina o futuro da Educação? 

Felipe Morais – Eu evito falar de como será o pós-pandemia. O que sabemos é que temos um mundo antes e outro depois, mas ainda não podemos prever o depois, pois infelizmente não estamos ainda 100% livres desse vírus. Outro fato é que o que aprendemos e nos acostumamos com a tecnologia nesse período só irá crescer. O resto teremos que viver para saber o caminho a seguir.

MB – Você concorda que a tecnologia teve papel fundamental para construir um novo futuro, que ainda ninguém sabe como será?

Felipe Morais – Sem dúvidas. Por isso, meu conselho é apenas estudem!

*A opinião dos entrevistados não expressa, necessariamente, o posicionamento do Blog da Minha Biblioteca.

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