A saúde mental dos estudantes já era um tema de preocupação nas IES (Instituições de Educação Superior) antes da pandemia do coronavírus. No entanto, a partir de 2020, o assunto virou pauta obrigatória em diversas instituições, como a PUC Minas, FAMIG e UNESP.

Algumas iniciativas foram reflexo de estudos e pesquisas dentro do universo acadêmico. Um levantamento divulgado pelo Instituto Semesp, em agosto de 2021, por exemplo, mostrou que mais de 91% dos estudantes das instituições particulares de educação superior e 94% das universidades públicas relataram episódios de problemas emocionais durante o período da crise sanitária. 

O Blog da Minha Biblioteca traz alguns desses exemplos de programas de acolhimento. Confira.

Segundo a Profa. Aline Aguiar Mendes, da FAPSI (Faculdade de Psicologia) da PUC Minas, a pandemia teve um impacto muito significativo. “Em nossa experiência, as crises de ansiedade e os conflitos familiares foram as dificuldades mais apresentadas pelos universitários. Foi possível conhecer essas demandas devido aos atendimentos em urgência realizados na Assistência Psicopedagógica aos alunos da PUC Minas, oferecidos aos discentes de modo on-line, durante o período de distanciamento social e, também, recentemente no retorno ao regime presencial”, relata.

A Professora destaca que estar bem emocionalmente é essencial para o processo de ensino-aprendizagem em qualquer fase da vida e explica que a instituição oferece, há muitos anos, diversos projetos em alguns campus, tais como:

Tecendo o Aprender – O projeto tem o objetivo de acolher o estudante, visando identificar dificuldades no processo de aprendizagem para, a partir disso, realizar um trabalho interventivo a fim de identificar as causas e possíveis soluções. O atendimento é realizado em um ambiente privado, em horários pré-estabelecidos. 

APP – Assistência Psicopedagógica PUC Minas – Projeto realizado na Clínica Escola do Curso de Psicologia da PUC Minas, unidade Coração Eucarístico. Consiste em uma escuta pontual, feita por estagiários bolsistas e monitores voluntários do curso, sob orientação de um docente. O objetivo é dar apoio aos estudantes que apresentam algum sofrimento psíquico. Esses discentes são atendidos, em média, por 4 a 16 sessões no máximo e, posteriormente, encaminhados para atendimento externo, em clínicas sociais e/ou profissionais egressos da universidade.

Plantão Psicológico PUC MG Poços de Caldas – Atende a comunidade interna – universitários, professores e funcionários. Os alunos do último ano do curso são os responsáveis pelo acolhimento na clínica-escola, sob supervisão de docentes. Os atendimentos consistem em um até três encontros e, dependendo do caso, podem ser encaminhados para o serviço de Psicoterapia Breve. 

Plantão Psicológico Campus Betim – Realizado por monitores, supervisionados pela coordenadora clínica do NUPSI – Núcleo de Referência em Psicologia – oferece escuta clínica às urgências subjetivas, sem agendamento prévio. Os monitores encontram-se disponíveis para acolhimento psicológico, em uma sessão ou mais, se necessário, aos estudantes, docentes e colaboradores.

Ainda de acordo com Aline Aguiar Mendes, essas iniciativas promovem uma melhora da angústia nos indivíduos. “Segundo os universitários atendidos, essa orientação permite que eles sigam com os projetos de vida. É possível dizer que após a interação com os programas, a maior parte passou a conceber a universidade como um importante ponto de apoio”, finaliza.

Jailton de Souza, Professor, Psicólogo e Coordenador Psicopedagógico da FAMIG, é enfático ao dizer que a boa saúde mental faz diferença no ensino-aprendizagem e que criar ações de autogerenciamento das emoções deve ser ‘pauta importante’ das instituições que queiram promover um ensino sadio, de qualidade e responsável. “Falar do assunto, ouvir e ter profissionais preparados para acolher esta demanda é imprescindível no auxílio ao universitário, com ações preventivas de autocuidado e gestão emocional”, explica.

Para o Coordenador, a pandemia causou forte impacto no universo acadêmico e na FAMIG as questões de conflito, mudanças, medo e perdas foram acompanhadas por meio de relatos dos professores e dos estudantes, com programas de apoio e acolhimento. “Hoje temos o setor de Psicopedagogia onde o universitário tem um canal para agendamento de assuntos relativos às dificuldades de ensino e aprendizado e inclui os desafios e experiências durante a transição do ensino remoto, híbrido e presencial”.

Ansiedade e estresse são os sintomas mais comuns relatados pelos estudantes. Na instituição, a disciplina Inteligência Emocional e Carreira é obrigatória em todos os cursos, na qual o discente compreende a importância de gerenciar e controlar suas emoções no âmbito educacional, pessoal e profissional.  

A Universidade também oferece um Setor de Psicopedagogia, que disponibiliza um atendimento individual, ou em grupo, para favorecer o aprendizado, auxiliar em conflitos e prevenção de estresse, ansiedade ou depressão, na busca de ambiente acadêmico sadio e satisfatório ao ensino e aprendizagem.

Jailton ressalta que, durante todo o ano letivo, são realizadas outras ações e dinâmicas de grupos para a discussão sobre a importância do estudante se ‘programar’ mentalmente e emocionalmente para os dilemas dessa nova fase de aprendizado do ensino superior e futuro profissional.

Na FAMIG há, ainda, projetos abertos à toda comunidade acadêmica e familiares como palestras, seminários e atendimento clínico. Neste mês, durante a campanha de prevenção ao suicídio, estão programadas apresentações com convidados externos, com temas que abordam a importância do autocuidado. “É nosso compromisso, como instituição, ajudar a desconstruir o tabu de falar sobre saúde mental”, conclui.

A Dra. Ludmila Candida de Braga, Médica e Coordenadora de Saúde e Segurança do Trabalhador da UNESP e docente do Depto. de Saúde Pública da Faculdade de Medicina de Botucatu, destaca que estudos (Academic performance and use of psychoactive drugs among healthcare students at a university in southern Brazil: cross-sectional study e Saúde mental na universidade: a perspectiva de universitários da permanência estudantil) apontam que o desempenho acadêmico dos estudantes é bastante impactado em situações de sofrimento psíquico, além de se verificar maiores taxas de reprovação e de abandono dos cursos. 

“Como parte da população geral, os universitários também tiveram a saúde mental negativamente afetada pela pandemia, com sintomas de ansiedade, depressão, preocupação excessiva, crises de pânico, medo de ser infectado e da morte de pessoas da família ou próximas”, relata.

No início do isolamento social, a UNESP implementou o Projeto Teleacolhimento, que oferecia dezenas de comunidades virtuais, de fácil acesso, moderadas por docentes e outros profissionais, cujo objetivo era de permitir a partilha de experiência e um espaço de escuta seguro, para tentar reduzir os níveis de estresse e sofrimento. 

Outra iniciativa da instituição são os chamados Núcleos Técnicos de Atenção Psicossocial, compostos por equipes de saúde multiprofissionais e que desenvolvem cursos, oficinas e atendimento individual e em grupo, com foco na saúde mental, além de acolher demandas de rotina e urgentes e dar o devido encaminhamento. 

Já o projeto Núcleo de Movimento, Inclusão e Saúde está presente em diversos campi, com a atribuição de promover e incentivar a realização e a participação da comunidade acadêmica em atividades educativas e esportivas, o que, segundo a Dra. Ludmila, impacta positivamente na vida das pessoas. 

Outra estratégia adotada foi a criação dos Comitês de Ação Cultural, que incentivam a participação, realizam e difundem ações culturais para também favorecer a saúde mental da comunidade acadêmica.

De acordo com a médica e docente, há décadas a UNESP desenvolve estes tipos de projetos e, mesmo antes do período de isolamento social, o tema já era foco de preocupação. “Mas, sem dúvida, a pandemia ampliou iniciativas dessa natureza, tornou evidente a necessidade de dar corpo a um projeto institucional de promoção e cuidado em saúde mental e, por outro lado, nos ensinou muito como formar e fortalecer redes em uma instituição tão capilarizada como a nossa. Atualmente, temos 34 unidades universitárias distribuídas em 24 cidades do Estado de São Paulo, característica que revela a potência dessa universidade, mas também representa um imenso desafio quando falamos da organização e execução de ações em saúde direcionadas à comunidade acadêmica”, finaliza.

*A opinião dos entrevistados não expressa, necessariamente, o posicionamento do Blog da Minha Biblioteca.

A Minha Biblioteca apoia as iniciativas com foco na saúde mental, assim como o Setembro Amarelo, campanha de prevenção ao suicídio, criada em 2014 pela Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP) em parceria com o Conselho Federal de Medicina (CFM),  e a ação do CVV (Centro de Valorização da Vida), que oferece escuta emocional gratuita 24h por dia.

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