Se, durante o isolamento social, gerado pela pandemia, os recursos tecnológicos abriram novas perspectivas para o ensino a distância e estimularam milhares de pessoas a ter um olhar positivo para este modelo de aprendizado, a mobilização também aconteceu em várias frentes.
As Instituições de Educação Superior (IES) tiveram que disponibilizar ferramentas virtuais e estruturar suas grades curriculares; os professores, se adequar a este novo formato de ensinar, e os estudantes superar as limitações de acessibilidade, engajamento e motivação.
Na Kroton, uma das verticais de negócios do grupo Cogna Educação – companhia brasileira e uma das principais organizações educacionais do mundo – este processo exigiu muita logística e desempenho de todos os envolvidos na área acadêmica, de gestão e tecnologia.
É sobre esta jornada, pautada pela inovação e pelo propósito de transformar a vida das pessoas, por meio de uma educação de qualidade, que Rangel Barbosa, Vice-Presidente de Produtos da Kroton, conversou com o Blog da Minha Biblioteca, para a primeira reportagem do Especial Volta às Aulas.
Para o executivo, não se pode negar as perdas educacionais, causadas pela pandemia, e os reflexos que ainda devem ser percebidos nos próximos anos. A tecnologia tem contribuído neste processo de retomada presencial às aulas e a expectativa é que novas metodologias de ensino-aprendizagem possam suprir todas as diversas lacunas do conhecimento, neste período de restrições.
MB – Como a Instituição se preparou para o retorno presencial no final de 2021 e se projeta para 2022? Quais as estratégias já implementadas e as que serão adotadas?
Rangel Barbosa – Com o arrefecimento da pandemia e as liberações dos órgãos competentes e, sempre focados na segurança de nossos estudantes e equipes, traçamos um retorno respeitando os protocolos de saúde e ajustamos as demandas de todas as unidades. Iniciamos as aulas online, em março de 2021, e presenciais, em algumas cidades, a partir de agosto.
Criar uma estrutura online de aulas síncronas, para turma do presencial, exigiu alinhamentos com as autoridades locais, equipamentos de prevenção, distanciamento nas salas de aula, com ajustes na área acadêmica e operacional. Porém, para a Kroton, esse processo foi mais simples, pois já tínhamos o know-how do ensino a distância – a Kroton é pioneira nessa modalidade há mais de 20 anos – e a nossa jornada de transformação digital, nos permitiu fazer uma migração rápida e eficiente, logo no início da pandemia. Em 24 horas, já tínhamos 480 mil objetos de aprendizagem disponíveis na nossa plataforma AVA.
Para 2022, a proposta é reduzir as transmissões ao vivo, à medida que avançamos na retomada das aulas teóricas presenciais. Mas estaremos atentos às novas variantes do vírus e orientações, sempre priorizando os cuidados com a saúde de todos os envolvidos – alunos, professores e colaboradores.
Na retomada presencial há um outro fator relevante, a sede dos alunos e professores para voltarem à sua rotina acadêmica, e esse retorno é necessário que ocorra de forma fluída, mesmo que em etapas.
O que pudemos perceber é que o distanciamento social acelerou a derrubada de alguns preconceitos e mostrou que é possível ter no ambiente digital a mesma qualidade de formação.
MB – Há ainda uma falta de consenso entre as IES sobre o retorno total ou modelo híbrido. Algumas levantam a questão de falta de recursos básicos para manter os protocolos, mesmo pós-pandemia. O que teria a dizer a respeito?
Rangel Barbosa – Na verdade, o modelo híbrido não é nenhuma novidade. Ser 100% presencial não existe mais, na prática, com exclusão de algumas instituições públicas. Segundo nossa legislação (Portaria 2.117/2019) do MEC, é permitido às IES aplicarem 40% da carga horária, dos cursos presenciais, na modalidade EAD, com exceção de Medicina, testando novas soluções e tecnologias no ensino-aprendizagem. Mas deve se reconhecer que o ensino a distância é mais desafiador para as pequenas instituições, pelos próprios custos, como estúdio de gravação, canal online e outras ferramentas virtuais.
MB – Como estas diferenças se refletem na Educação?
Rangel Barbosa – Entre 80% e 85% dos estudantes, que chegam às nossas instituições, vieram de escolas públicas e não possuem o índice desejado de letramento em Português e conhecimentos em Matemática, mas desejam uma oportunidade. O papel das IES privadas é motivar e apoiá-los na busca de seus sonhos, com a melhor qualificação, uma tarefa contínua na disseminação do conhecimento e metodologias que possam contribuir neste processo de ensino-aprendizagem.
MB – Recentemente, você comentou que está ocorrendo um crescimento expressivo do interesse pelo ensino a distância, num patamar previsto para 2025. Como avalia esta demanda?
Rangel Barbosa – Os cursos EAD são cada vez mais procurados, essa tendência já ocorria antes mesmo da pandemia. Em 2021, nós batemos um recorde nesta modalidade. Em janeiro eram 1500 cursos em mil municípios. Fechamos o ano com 2500, em dois mil municípios.
A pandemia acelerou o processo de digitalização do ensino e contribuiu para quebra de paradigma em relação ao EAD
Há uma maior aceitação dos alunos ao modelo digital, cuja proposta de valor em termos de qualidade, conveniência e custo fica cada vez mais clara. No entanto, vale destacar que o ensino presencial nunca deixará de existir. Prova disso é que a velocidade de crescimento do ensino digital não é equivalente entre as diversas áreas de conhecimento. Em algumas delas, embora com menor participação relativa, o presencial continuará sendo uma modalidade relevante, seja para a realização de atividades práticas e laboratoriais, seja para cursos em que há exigência legal de presencialidade, como Medicina, Engenharias e Direito.
Há, ainda, um amplo espaço para o EAD se expandir, pois são poucos os limites, em termos de cursos. Em Gastronomia, por exemplo, já é possível criar mecanismos de experiências gastronômicas, com acompanhamento de um tutor e simuladores virtuais para tornar a prática mais real. As exceções são a área de Saúde, por questões de regulamentação, e Engenharias, por demandarem carga horária prática presencial.
“A Minha Biblioteca é o tipo de plataforma fundamental para o progresso do ensino. Para os estudantes, seja qual for a modalidade – EAD, híbrido ou presencial – viabiliza, de forma rápida e fácil, o acesso ilimitado ao acervo virtual e a ampliação do conhecimento”.
MB – Quais os maiores desafios para oferecer um ensino online de qualidade e que motive os estudantes? É possível compensar a falta de interação ao vivo e a conexão emocional estudante-professor?
Rangel Barbosa – No EAD temos menores gastos com deslocamentos, de tempo e cria-se uma facilidade de acesso ao conhecimento, numa democratização nas condições de aprendizagem. O desafio é garantir a interação. No nosso caso, o perfil dos discentes é, em sua maioria, mulheres, entre 25-45 anos, com dupla jornada, renda média de dois e meio salário-mínimo, que possuem celular e conectividade e conseguem usar bem os APPs. Por estas condições tivemos poucas queixas, em relação à adaptabilidade.
O cenário de distanciamento nos motivou a um olhar para o futuro e começamos a traçar nosso ingresso no EJA – Educação de Jovens e Adultos – e nos colocar diante de uma situação um pouco mais desafiadora, pois se refere a pessoas sem educação básica – ensino fundamental e médio – concluída na idade apropriada. É uma nova experiência e pretendemos aplicar nossa expertise no ensino a distância também para este público.
MB- Ter professores altamente qualificados, ministrando aulas à distância, é um ganho para o estudante, quando se considera que ele terá acesso a um alto conhecimento técnico, em qualquer lugar do país?
Rangel Barbosa – A pandemia evidenciou dois perfis de professores. Um docente que nunca se imaginava em casa, ministrar aulas a distância e se descobriu nesta modalidade. O outro que, mesmo com prática no presencial, também foi desafiado no online. Temos que pensar que é muito diferente coordenar 50 estudantes num chat, e responder, quando algum levanta a mão primeiro, numa sala de aula. Foi um processo de ajustes e, felizmente, poucos não se adaptaram, o que nos leva a concluir que, mesmo a distância, em regiões fora dos centros urbanos, o conhecimento de qualidade pode chegar a um número muito maior de pessoas, num contato com docentes altamente qualificados, quebrando barreiras estruturais no ensino-aprendizagem.
MB- Ter uma plataforma como a Minha Biblioteca fez diferença durante a pandemia e nessa retomada das aulas, tanto no ensino a distância, quanto no presencial?
Rangel Barbosa – A Minha Biblioteca é o tipo de plataforma fundamental para o progresso do ensino. Para os estudantes, seja qual for a modalidade – EAD, híbrido ou presencial – viabiliza, de forma rápida e fácil, o acesso ilimitado ao acervo virtual e a ampliação do conhecimento. Temos planos de ampliar a parceria com a Minha Biblioteca. Depois do AVA (Ambiente Virtual de Aprendizagem), a biblioteca digital é a ferramenta mais aceita por alunos e professores.
MB – A Cogna Educação defende a bandeira de um ensino pautado pela inovação, com o propósito de transformar a vida das pessoas por meio de uma Educação de qualidade. Fale um pouco a respeito.
Rangel Barbosa – Temos um perfil das discentes – maioria mulheres – e sempre nos propomos a melhorar suas vidas, oferecendo educação de qualidade e recursos de ensino adaptativo; maior interação com tutor, ferramentas online e bibliotecas digitais da melhor qualidade. Realizamos pesquisas de satisfação com nossos estudantes – NPS (Net Promoter Score) e temos obtido bons resultados.
MB – Quando pensamos em Kroton, esta veia de inovação e estratégias digitais parece ainda mais evidente. Como são aplicadas as Tecnologias Emergentes e como simplificam os processos de aprendizagem?
Rangel Barbosa – No período da pandemia, a Tecnologia Emergente (TE) simplificou muito o processo de aprendizagem. Dentre as ferramentas utilizadas, os Simuladores de Laboratórios foram bem aceitos. É um recurso que possibilita que os estudantes visualizem e trabalhem experiências e realidades, mesmo distantes do laboratório físico. Outro recurso, no contexto da TE, são as plataformas que facilitam a comunicação. Optamos pelo Teams na relação professores-alunos, em contato em tempo real e acesso via chat, criando uma maior interação neste convívio à distância.
Mais uma alternativa foi o uso de um aplicativo offline, onde era possível baixar o material – vídeos e textos – e acessá-los a qualquer hora. Todas as ferramentas foram e são eficazes na proximidade e interação no dia a dia ou mesmo diante das dificuldades de acesso à internet, permitindo que eles estudem, gerando uma acessibilidade mais ampla em todo o processo de aprendizagem.
MB- O projeto com as startups se insere neste contexto?
Rangel Barbosa – A Cogna, holding que controla a Kroton, vem integrando a inovação ao centro do negócio, ao criar, por exemplo, uma Vice-Presidência de Gente, Cultura e Inovação. Tudo, para garantir que suas marcas possam crescer a passos largos, fortalecendo suas posições de liderança no setor e investindo em modelos mais disruptivos e eficientes. A Ampli, nossa edtech de ensino 100% digital, já é um grande exemplo dos impactos desta transformação dentro do ecossistema de Kroton. Mas outras edtechs como Consultoria Educação (Kroton); Canal Conecta (Kroton); Forma Talentos (Kroton); Stoodi (Kroton); Mind Makers, Redação Nota 1.000, Meritt (Somos Educação) – também demonstram que a companhia tem um caminho claro de crescimento.
Trabalhamos com algumas startups possibilitando que os estudantes possam ter uma renda, por exemplo o Consultoria Educação. Temos também a plataforma AMPLI, que desenvolve novas tecnologias, em funcionamento offline, como a prova 100% digital e com segurança, impedindo que o aluno “cole”, durante sua realização. A plataforma Stoodi, ligada à preparação para o ENEM, traz outras maneiras de entregar o material didático, novos estilos de vídeo, formatos de texto e áudio, que contribuem bastante neste contexto. E há o Canal Conecta, iniciativa de empregabilidade que orienta os discentes em postagens de empregos e construção de currículos.
“Garantir uma alta qualidade do ensino, com tecnologias acessíveis, no sentido de chegar aos cantos mais remotos do país e com baixo custo, para que os cursos possam atender a um maior número de estudantes, é um desafio”
MB- Você mencionou, em outra entrevista, que é preciso não apenas ter um aparelho que permita a conexão, mas que o estudante se sinta pertencente a esta jornada de aprendizado, dentro de suas restrições ao uso da tecnologia. Como avalia a acessibilidade neste cenário?
Rangel Barbosa – Tanto a acessibilidade, quanto a inclusão, são temas relevantes para nós. Acredito que vale uma abordagem trazendo a inclusão em dois sentidos: a questão de renda e a de percentuais de deficiências. O primeiro se associa ao paradigma de que no Brasil se tem essa mentalidade de acreditar que ensino superior é só para privilegiados. E não deveria ser assim. Garantir uma alta qualidade do ensino, com tecnologias acessíveis, no sentido de chegar aos cantos mais remotos do país e com baixo custo, para que os cursos possam atender a um maior número de estudantes, é um desafio. Não basta as IES (Instituições de Educação Superior) se empenharem apenas na redução de valor, a acessibilidade financeira faz parte de um contexto maior, de se ter Educação para todos, mas com qualidade.
Quando falamos de inclusão, no sentido de pessoas com necessidades especiais, acredito que a digitalização e as atuais tecnologias contribuam muito. Hoje, por exemplo, há mecanismos de áudio, a partir de vídeos automáticos e geradores de texto, que permitem configurar o tamanho das fontes no celular, facilitando a leitura. Por isso, tanto as pessoas com deficiências auditivas, quanto visuais, conseguem ter uma vida muito melhor, por conta da tecnologia, e se valer dela também para estudar. Para os que possuem outros tipos de deficiências, mais específicas, temos o NUEEI – Núcleo de Educação Especial Inclusiva – que apoia essas pessoas diretamente, para garantir que tenham um excelente aprendizado.
MB- Pode se dizer que a inovação funcionou como uma ferramenta motivadora no avanço da Educação, num período de tantas restrições?
Rangel Barbosa – Realmente a inovação é uma ferramenta motivadora na Educação e, na Kroton, gerou um crescimento expressivo do ensino a distância. Como estávamos num momento pandêmico, que impedia a presencialidade, esta expansão superou as expectativas. Um dado público, que posso comentar, é que o EAD, na graduação da Kroton, aumentou praticamente 40%, na nossa última captação, em 2021, em relação ao ano anterior, numa curva que tem sido ascendente, mesmo num menor percentual. Com o mercado de Pós-Graduação tem ocorrido algo semelhante.
Esse cenário tem nos motivado ao ponto de investir em novas modalidades de ensino a distância. Uma delas, como já comentei, é o EJA – Ensino para Jovens Adultos – um processo que já está adiantado nas negociações e deve ser implantado em 2022. É mais uma iniciativa que mostra que a inovação faz a diferença na Educação.
MB- Num balanço da pandemia, quais as principais perdas, pensando nas IES, nos docentes e estudantes? Como analisa estes reflexos no ensino e na dinâmica da Kroton?
Rangel Barbosa – As principais perdas, sem dúvida, ocorreram muito no campo emocional e um pouco na aprendizagem, pelo próprio cenário que exigiu uma ampla transformação, para que os estudantes e professores se acostumassem com as novas metodologias de ensino. Tudo foi desafiador. Quando há um processo como este, por alguns meses, com certeza se tem algum prejuízo no aprendizado, mas procuramos compensar estas perdas disponibilizando mais conteúdo online, tendo maior capacitação e presença dos professores, para interagir com os estudantes, e garantindo uma boa dinâmica com os tutores, para minimizar os déficits em termos de aprendizagem.
Quanto às perdas emocionais, de interação com os colegas, docentes, na ida para faculdade, nos momentos de autorreflexão, todos foram impactados. No caso dos professores, eles puderam ter acesso a apoio psicológico ou com terapeutas contratados e, para os estudantes, abrimos canais diretos, para que nos informassem caso tivessem qualquer dificuldade psicológica.
MB – Muitos especialistas dizem que estes quase dois anos representaram um retrocesso educacional que levará anos para recuperar. Você concorda? Como projeta o futuro da Educação com foco no Grupo e no país?
Rangel Barbosa – Sobre esse retrocesso, acredito que tem dois pontos: o da educação básica e do ensino superior. E, mesmo em relação ao ensino superior, deveríamos avaliar dois aspectos: o processo de ensino e a aprendizagem na faculdade versus estágios. No aprendizado prático, todos os estudantes foram impactados e procuramos fazer o máximo que podíamos, dentro dos limites definidos pelas autoridades de saúde, para acompanhar, quando eram liberados, dependendo de cada município, para fazer estágios e oferecer algumas oportunidades digitais. Porém, esse aprendizado, no dia a dia, do contato direto com a profissão de forma prática, teve impacto.
No caso do ensino e aprendizagem, existiram algumas limitações inerentes aos cursos, como os de Saúde. Quando se pensa em aulas presenciais nos laboratórios, pois foram impedidas de serem realizadas, por algum tempo. Para contornar tantas dificuldades, uma das estratégias foi ajustar estas atividades no currículo, para que discentes pudessem realizá-las depois e, em vários momentos, trocamos a ordem das disciplinas. Foi uma tentativa de minimizar, ao máximo, este déficit e garantir a experiência prática, mesmo antes de se formar.
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