Visto por muitos como uma reconexão com nossos impulsos coletivos e mais profundos para criar, inventar e transformar o mundo, o Movimento Maker invadiu as escolas nos últimos anos. Para alguns, esse movimento serve como sinal de alerta de que jovens que fazem muitas provas e que convivem com um calendário pesado não se tornarão criativos e apaixonados pela leitura.Espaços maker, design thinking e outros modelos têm como função principal dar vida a essas ideias em salas de aula, bibliotecas, museus e centros comunitários. Mas essas inovações são acessíveis a todas crianças?
A ex-professora do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT ), Leah Buechley, inventora de várias tecnologias maker que aliam modernas tecnologias à tradição manual, defende uma guinada para além de robôs e competições para que sejam incluídas novas ferramentas e tradições. Ela destaca que existe uma crença de que é necessário ter equipamentos caros e grandes projetos de modelagem para fazer parte do movimento maker de verdade. Nada poderia ser mais distante da verdade.
Expansão do movimento
A ideia é expandir o movimento para um maior número de pessoas, e inclusive existem inúmeras organizações trabalhando para aumentar o alcance do projeto, não apenas nos EUA, mas ao redor do mundo. O FabLearn Fellows, projeto do Stanford Transformative Learning Technologies Lab, é formado por 18 educadores que trabalham em diferentes escolas, entidades comunitárias e museus pelo mundo. Seus blogs e posts oferecem muitos “comos” e “porquês” de projetos bem-sucedidos em inclusão e empoderamento.
Uma das bolsistas é Susan Klimczak, organizadora do programa Learn 2 Teach, Teach 2 Learn no South End Technology Center @ Tent City, uma iniciativa que conta com parceria do MIT. O objetivo é criar espaços criativos e seguros para estudantes de ensino médio e universitários usarem processos de design para criarem um futuro melhor e mais justo. Esses jovens não apenas participam, como aprendem a ensinar e a compartilhar suas novas habilidades com os outros, criando comunidade e cultura autossustentáveis.
Os dias de espera por uma doação ou por uma empresa que faça o que você precisa estão acabados. As pessoas estão usando a tecnologia maker para construir suas próprias vidas e fazer as transformações que importam para si e para suas comunidades.
Nettrice Gaskins, uma artista e educadora que é diretora da STEAM Education Lab na Boston Arts Academy, escreve e dá palestras sobre essa mudança sutil que faz toda a diferença. Em Recontextualizing the Makerspace: Culturally Responsive Education, ela discute uma “redefinição dos processos tecnológicos para que incluam o engajamento de grupos subrrepresentados na cultura faça-você-mesmo/hacker/maker”. Ao criarem espaços e eventos que sejam culturalmente receptivos e localizados, eles servem como catalizadores e agentes de mudanças dentro de uma comunidade, ao invés de se tornarem objeto de mudanças por outros.
A ideia de inclusão não é importante só para organizações comunitárias ou escolas de baixo nivel socioeconômico. Todo espaço maker deve estar ciente de sua capacidade para servir a todos: crianças e adultos, todos os gêneros, com todo o tipo de experiência, e aqueles que são interessados em artes, engenharia, ou ambos. Mesmo nos espaços maker com melhores recursos deve haver cuidado constante sobre as suposições feitas por quem queira utilizá-los.
Para criar experiências inclusivas em escolas, educadores devem levar em consideração os seguintes fatores:
– Empoderar estudantes não apenas para serem objetos passivos das aulas, mas para inclui-los como aliados e defensores para fazer coisas que sejam importantes para eles.
– Um espaço culturalmente receptivo, localizado e relevante não significa pedir para estudantes escreverem letras de hip hop sobre método científico. Mas da mesma forma não significa ignorar o hip hop. Analisar as práticas culturais por uma perspectiva maker pode abrir portas e derrubar as barreiras entre professores e estudantes.
– Sensibilidade. Pesquisas mostram que meninas reagem a um ambiente que reflete uma cultura hacker estereotipada negando que tenham interesse em ciências e em engenharias. Se você não tiver certeza sobre a característica da sua classe ou espaço maker, pergunte a algumas crianças
– Diminua a competição. Competições abertas ou mais sutis, como aquelas causadas pela falta de material e ferramentas apropriados, podem mitigar a participação das meninas. Isso pode também significar uma barreira para os iniciantes e os estudantes que não se consideram “técnicos”. A competição aumenta os riscos a um nível que pode ser muito alto para eles tentarem algo que possam realmente gostar.
– Não privilegie um tipo de construção em detrimento de outro. Robôs são legais, mas as mesmas tecnologias de microcontroladores, sensores, motores e luzes podem fazer roupas inteligentes (uma invenção útil para uma tia idosa), ou melhor ainda, algo que ninguém tenha pensado antes. Ofereça incentivos, múltiplos acessos e elogios a todos os tipos de ideias.
Existem muitos, muitos exemplos de espaços maker ligados às comunidades e às escolas, que trabalham para empoderar a todos, não só aqueles que querem construir robôs. Espaços maker devem ser lugares para empoderamento de pessoas, todas elas, para que experimentem a possibilidade de dar sentido ao mundo e torná-lo um lugar melhor para suas vidas.
Via: Site oficial Porvir