Entrevista com Urias Carlos de Souza Barbosa

ENTREVISTA com Urias Carlos de Souza Barbosa

A adoção de novas tecnologias se tornou a principal estratégia em muitas Instituições de Educação Superior (IES) e as Bibliotecas Digitais despontaram como um diferencial na gestão do conhecimento, dentro do universo acadêmico, e podem representar um fator muito importante na qualidade da formação profissional e na redução de custos.  

Mas, implantar estas inovações e garantir acesso à informação de qualidade dentro das universidades, ainda é encarado como um enorme desafio para muitas instituições, gestores, bibliotecários e docentes. 

Numa análise deste amplo cenário, de muitos atores, o Blog da Minha Biblioteca conversou com Urias Carlos de Sousa Barbosa, Especialista em Educação Superior e Consultor com mais de 20 anos de experiência em Gestão do Ensino Superior.

Com passagens em IES públicas e privadas, Urias tem uma profunda experiência na gestão acadêmica e, especialmente, na de acervo bibliográfico. Como consultor, prestou assessoria na construção de projetos pedagógicos de cursos de graduação. Destaque para atuação ativa no amplo projeto de solução de aprendizagem, desenvolvido em parceria com a Hoper e Saraiva Educação

Para ele, a partir daí, novas perspectivas se abriram no seu trabalho e garantiram um olhar mais profundo sobre o papel das editoras acadêmicas e das bibliotecas digitais. 

Confira suas ideias neste bate-papo.

MB: Como se pode traçar um panorama das relações entre as Bibliotecas Digitais e Instituições de Educação Superior? 

Urias: Os atuais instrumentos do INEP/MEC para Avaliação de Curso trouxeram orientações fundamentais e um grande incentivo à utilização de acervos virtuais. A partir desses instrumentos, que entraram em vigor em 2018, a avaliação mudou muito. Houve a substituição dos antigos critérios quantitativos de avaliação de responsabilidade da Biblioteca, por qualitativos, que exigem a corresponsabilidade do NDE (Núcleo Docente Estruturante), que deve assinar o Relatório de Adequação do Acervo. 

Mas não é só isso. O acervo precisa ser, de fato, utilizado.  Segundo o Indicador Titulação Docente (Indicador 2.5. Instrumento de Reconhecimento/Renovação de reconhecimento de Curso)  “o corpo docente analisa os conteúdos dos componentes curriculares, abordando a sua relevância para a atuação profissional e acadêmica do discente; fomenta o raciocínio crítico com base em literatura atualizada, para além da bibliografia proposta e proporciona o acesso a conteúdos e pesquisa de ponta, relacionando-os aos objetivos das disciplinas e ao perfil do egresso e incentiva a produção do conhecimento, por meio de grupos de estudo ou de pesquisa e da publicação”.

MB: E como isto funciona na prática, no momento de uma avaliação?

Urias: A Comissão de avaliadores observa relatórios de uso do acervo e entrevista professores e estudantes, a fim de cruzar as informações e buscar evidências. O objetivo dos avaliadores é verificar se a bibliografia indicada é conhecida pelos estudantes, se está atualizada e adequada às ementas. Moral da História: não basta haver mera indicação de obras, é fundamental que os professores as utilizem nas aulas e que os estudantes as estudem.

O estudo da bibliografia fomenta a aprendizagem e o raciocínio crítico e, por isso, a indicação dos títulos é uma tarefa de muita responsabilidade para professores, NDE e bibliotecários.

Uma novidade dos atuais instrumentos de avaliação é que tudo está interligado, o que aumenta, de forma impressionante, a eficiência do processo de ensino-aprendizagem. São excelentes as orientações contidas em cada um dos indicadores. O INEP sabia de fato o que estava fazendo e merece os parabéns.

MB: Que parâmetros devem ser considerados pelas IES antes da sua tomada de decisão para definir seu tipo de acervo?

Urias: O processo de aprendizagem está em primeiro lugar e ele pode variar de curso para curso. É necessário considerar as características da área e a opinião do respectivo corpo docente e discente. Não deve haver uma regra única para todos os cursos.

É normal existirem diferenças nas necessidades e nas preferências, entre os cursos, e isso deve ser considerado na tomada de decisão. Os insumos para identificar as especificidades de cada área são obtidos pela vivência dos membros do NDE e pelos dados coletados pela Comissão Própria de Avaliação (CPA).

Mesmo com a possibilidade de se adotar títulos apenas virtuais, é preciso lembrar que, embora isso seja muito adequado às disciplinas EAD, nem sempre vale para as presenciais. Um estudante matriculado nesse tipo de curso não é obrigado a ter dispositivos tecnológicos e/ou acesso à internet banda larga. Assim como os professores, não podem ser prejudicados pela imposição unilateral de uso exclusivo de títulos virtuais. A IES precisa garantir o acesso amplo, geral e irrestrito à bibliografia Indicada.

Respeitadas as peculiaridades do curso, o NDE valida as indicações dos professores, considerando a adequação dos títulos à bibliografia de cada ementa e a atualização das edições. A partir daí, a biblioteca poderá verificar qual é a Plataforma de Livros Digitais que melhor atende ao respectivo curso.

MB: Como instrumentalizar esta operação? 

Urias: Compete ao NDE elaborar o Relatório de Adequação de Acervo examinando, para cada Unidade Curricular, a ementa e a atualização das obras indicadas na bibliografia básica e complementar. A partir disso, os bibliotecários verificam quais títulos estão disponíveis na versão física e/ou virtual e, para aqueles disponíveis na versão virtual, qual a plataforma que os disponibilizam, dentro da bibliografia proposta para os cursos. Se não houver na versão virtual, é obrigatória a versão física. E, mesmo para os títulos virtuais, recomenda-se alguns exemplares físicos (Plano de Contingência).  E compete ao NDE esta definição quantitativa.  Vale lembrar que o modelo de acesso offline, oferecido por algumas plataformas de acervo digital, pode apoiar o Plano de Contingência e garantir que o acervo está adequado. 

Nos atuais instrumentos de avaliação não existe mais o quantitativo de exemplares por vaga, isso acabou. O fundamental é garantir aos estudantes e professores o acesso amplo, geral e irrestrito à bibliografia. Sugiro a relação: se o título for apenas físico, 1 exemplar para cada seis vagas autorizadas; se físico e virtual, 1 exemplar para 12 ou 15 vagas.

MB: Como avaliar o resultado deste processo financeiramente? A Biblioteca Digital possui melhor custo-benefício?

Urias: Se a análise comparativa entre a bibliografia necessária e o acervo disponível na biblioteca digital for correta e se a plataforma digital oferecer um amplo acervo atualizado constantemente, a relação custo-benefício será extraordinária. Temos como comprovar de forma categórica esta afirmativa. A grande questão é alinhar as necessidades de um curso ao serviço de biblioteca de uma IES. Esta operação passa pelo desafio da Coordenação de Curso, do NDE e dos Bibliotecários.

Tenho realizado este tipo de trabalho para algumas IES. Analisamos junto com o NDE, a Coordenação de Curso e a Biblioteca o acervo e os títulos existentes na biblioteca digital e o resultado surpreende as IES. Temos uma base de dados unificada, que reúne as informações de mais de 130 editoras e das grandes bibliotecas digitais. Normalmente a economia ultrapassa a 80% quando a análise considera todas as variáveis descritas.

 


“Se a análise comparativa entre a bibliografia necessária e o acervo disponível na biblioteca digital for correta e se a plataforma digital oferecer um amplo acervo atualizado constantemente, a relação custo-benefício será extraordinária”.


 

MB: Como definir então a escolha do melhor tipo de acervo? 

Urias: O Relatório de Adequação de Acervo (Itens 3.6 e 3.7), previsto no instrumento de avaliação, deve ser feito no mínimo uma vez por ano, com especial cuidado nos cursos, cuja bibliografia sempre tem novas edições. Se tivermos como exemplo o curso de Direito, com 10 períodos e cerca de 60 disciplinas, seriam mais ou menos 480 títulos a serem pesquisados (considerando 3 títulos na bibliografia básica e 5 na complementar) de várias editoras e plataformas de livros digitais.

É um trabalho lento, penoso e improdutivo, pois as informações para um bom gerenciamento do acervo estão espalhadas. Gasta-se tempo e dinheiro, num trabalho extremamente cansativo e que precisa ser repetido todos os anos. As IES sofrem. 

MB: As bibliotecas digitais colocaram ‘em xeque’ o modelo tradicional das bibliotecas universitárias ou ambas se complementam?

Urias: Não existe “xeque”, muito menos “mate”. Há uma maior quantidade de soluções para as IES atenderem sua comunidade e aprimorarem seus processos de ensino e de aprendizagem. Tudo se complementa e, quando se soma ao trabalho do NDE e dos bibliotecários, tudo flui bem.

Os profissionais de biblioteca não podem achar que ao ter uma plataforma de livros digitais o trabalho deles acabou, o gerenciamento do acervo também passa pelos sistemas de biblioteca e é uma exigência dos instrumentos de avaliação institucionais. 

As IES, com uma gestão baseada exclusivamente em cortes de custos, estão sofrendo. Os cortes não podem afetar a qualidade nem a observação das exigências normativas. Uma gestão estratégica, baseada em dados (coletados e tratados pela Biblioteca e pelo NDE) é uma imposição dos tempos atuais que garante a qualidade, aumenta a performance dos professores e dos estudantes e eleva a reputação de cursos e da IES. É a velha máxima: “quem não tem competência não se estabelece”. É preciso otimizar a operação e racionalizar os custos e não simplesmente cortar tudo e comprometer a operação.

MB: As tecnologias digitais estão cada vez mais presentes nas IES.  Como avalia este cenário?

Urias: As Bibliotecas Digitais são uma parte muito interessante da questão, mas algumas ainda precisam ampliar suas bases, melhorar o sistema de informações para haver maior interligação com os sistemas de gestão das IES. Há um bom caminho a ser percorrido.

MB: Quais as maiores lacunas das bibliotecas digitais hoje? O que ainda precisa ser melhorado?

Urias: A primeira questão é entender a necessidade do cliente ou melhor, definir o cliente e entender sua necessidade. Para as IES, o acervo a ser disponibilizado para os cursos precisa manter coerência e atualização com aquilo que as faculdades de fato precisam. 

MB: Sabe-se que a qualidade do curso deve sempre estar em primeiro lugar numa IES. Como os envolvidos nesta cadeia devem contribuir? 

Urias: As coordenações de Curso, os NDE e os Bibliotecários sabem o que precisam fazer. Para conseguirem realizar um trabalho efetivo, em relação à atualização das bibliografias dos cursos, necessitam de informações qualificadas que, eventualmente, podem não estar disponíveis.

MB: Como então organizar estas informações?

Urias: Percebemos há alguns anos a necessidade de organizar e consolidar os dados disponíveis nos sites de várias editoras e sites das Bibliotecas Digitais, em uma única base de dados que permitisse às instituições fazer escolhas rápidas, tomando decisões acadêmicas e gerenciais com agilidade. E algumas plataformas já sinalizam interesse nesta direção.

Conheça a Minha Biblioteca

A Minha Biblioteca é a maior e mais completa plataforma de ebooks em português, formada pelo consórcio entre as principais editoras de livros acadêmicos, técnicos e científicos do Brasil. Em dez anos de atuação no mercado, conta com mais de 800 instituições de ensino parceiras e mais de 4 milhões de usuários.

Com a missão de apoiar a construção e disseminação do conhecimento, a Minha Biblioteca preza pela qualidade dos serviços com base na excelência de conteúdos acadêmicos, necessidades dos clientes e no investimento em tecnologias inovadoras.

Criada para oferecer acesso rápido e fácil aos principais ebooks recomendados nas disciplinas acadêmicas, a Minha Biblioteca é uma plataforma digital com catálogos segmentados em várias áreas de conhecimento.

Oferecendo diversas vantagens para as instituições de ensino superior, como redução do espaço para o acervo físico e ampliação do acesso aos livros a todos os usuários por meio de qualquer dispositivo, a Minha Biblioteca contribui para a inovação tecnológica na educação superior.

Quer saber mais sobre os catálogos, recursos e benefícios da maior e mais completa biblioteca digital de livros acadêmicos para sua IES? Entre em contato conosco e solicite uma proposta