No mês em que se comemora o Dia do Professor, 15 de outubro, o Blog da Minha Biblioteca traz entrevistas exclusivas, numa série especial com profissionais que se destacam em diversas áreas do conhecimento. A primeira é com Paulo Albuquerque – Professor Associado da Faculdade de Eng. Civil, Arquitetura e Urbanismo (UNICAMP), Coordenador do Curso de Engenharia Civil e autor do livro “Engenharia de Fundações” (Gen-LTC).
Nessa conversa, ele lembra que o novo docente não deve apenas transmitir conhecimento técnico, mas também se posicionar como uma pessoa que poderá auxiliar o estudante na construção de uma formação humanística e social. É um desafio que se amplia, diante das novas necessidades de preparar os universitários para um mercado de trabalho que exige diversificadas habilidades e o que é ensinado, muitas vezes, precisa ir além do limite do conteúdo específico de cada curso.
MB – A inovação na Educação tem sido uma proposta universal, para estruturar e aplicar novos caminhos para o ensino e aprendizagem. Quais as estratégias das IES (Instituições de Educação Superior) neste processo de adequação?
Paulo Albuquerque – Nos últimos anos, a UNICAMP implementou e estruturou várias ferramentas de Tecnologia da Informação para que os docentes pudessem agregá-las nas suas práticas de ensino, em suas disciplinas. Dentre estes recursos, podemos citar o Google Workspace, Moodle e a Minha Biblioteca, entre outras.
MB – Que mudanças podem ser destacadas nos cursos superiores de Engenharia, pensando em novas metodologias e demandas no mercado de trabalho?
O mercado de trabalho precisa de um profissional que vá além dos conhecimentos técnicos, ou seja, que tenha nas habilidades interpessoais características significativas.
MB – Neste cenário, o que tem motivado ser docente nos dias de hoje? Quais os principais propósitos do educador?
Paulo Albuquerque – A maior motivação da docência é a troca de experiências, o que permite estar sempre atualizado e empenhado em agregar novos conhecimentos. Acredito que o maior propósito é formar um profissional capacitado tecnicamente, mas também, preocupado com as relações humanas. Tenho a percepção de que os docentes têm buscado se qualificarem nas suas técnicas de ensino, o que foi antecipado com o ensino remoto na pandemia.
MB – Como as mudanças ligadas à tecnologia impactaram positivamente na transmissão do conhecimento? Pode relatar algumas experiências com estudantes?
Paulo Albuquerque – A atual geração nasceu com a internet e as tecnologias da informação, o que induziu a mudanças das técnicas de ensino, de forma que pudessem ser mais atrativas, com maior interação docente-discentes. Estas peculiaridades favorecem aulas menos monótonas e com maior participação do alunado. É possível citar o uso da tecnologia Kahoot que propicia uma competição saudável entre os estudantes, para responderem as questões mais rápido e assertivamente. O Socrative também é uma ferramenta muito útil em que eles podem ser desafiados a qualquer momento na sala de aula.
MB – O uso de materiais complementares e recursos em apoio aos professores e estudantes, como os utilizados em seu livro “Engenharia de Fundações”, é um estímulo a este maior engajamento, inclusive dos docentes?
Paulo Albuquerque – Sim, efetivamente são recursos que auxiliam muito o ensino e o aprendizado. O material complementar do nosso livro tem contribuído bastante, pois possibilita ao estudante assistir às videoaulas dos tópicos mais importantes da disciplina, ajudando ainda para um maior entendimento e realização das atividades propostas. Com relação aos docentes, a disponibilização do plano de aula e das figuras propiciam um melhor planejamento em sala, além de somar na qualidade dos materiais didáticos.
MB – Como avalia o interesse dos estudantes pelos cursos de Engenharia? Qual é o maior desafio para evitar a evasão? Dificuldade no aprendizado de temáticas básicas de cálculo e matemática, exigência de níveis mais aprofundados são pontos importantes neste contexto?
Paulo Albuquerque – O estudante, quando ingressa em um curso de Engenharia, busca o conhecimento aplicado já nos primeiros semestres do curso. O fato de oferecer neste período disciplinas que mostram um pouco o que é a Engenharia é um recurso que traz o interesse do aluno, traduzindo em uma redução da evasão. É importante lembrar que o mercado de trabalho e a oferta de emprego são fatores importantes para a manutenção dos discentes no curso. Certamente, as disciplinas do ciclo básico são um obstáculo para uma progressão. No entanto, se houver uma maior aplicabilidade dos conteúdos da Engenharia nestas disciplinas, pode aumentar o interesse pela carreira e incentivar o aprendizado.
MB – A adoção de novos caminhos para que o aprendizado realmente aconteça, como práticas de metodologias ativas; aplicação de projetos vinculados à recuperação da aprendizagem; o conhecer o estudante e a sua real necessidade, são estratégias eficazes?
Paulo Albuquerque – Creio que são técnicas eficazes, porém não é possível aplicar em todas as disciplinas do curso, pois depende do perfil do docente. Alguns têm mais facilidade que os outros para compreender e adotar essas metodologias, mas há um fato importante a destacar: o estudante também precisa entender o processo. Em geral, ele vem de um Ensino Médio em que a técnica de ensino é a tradicional e, quando ingressa na universidade, essa “chave” precisa ser mudada. E isso é um fator que dificulta um pouco a aplicação das novas metodologias de ensino.
“O mercado está muito focado não só no engenheiro capacitado, mas também com as interrelações pessoais, além dele ser um profissional resiliente, flexível, comunicativo e que tenha um perfil de liderança”
MB – Como as plataformas digitais apoiam o aprendizado e proporcionam um ambiente mais favorável ao direcionamento de conteúdos, ao autoestudo e protagonismo dos estudantes?
Paulo Albuquerque – A disponibilização de videoaulas e outros materiais gravados contribuem muito para o aprendizado, pois permitem ao estudante rever os conteúdos pré ou pós-aula. A conectividade entre os atores por e-mail, chats ou aplicativos de conversa, também se mostram ferramentas que favorecem o aprendizado. Na UNICAMP utilizamos muito as do Google Workspace e o Moodle.
MB – Como as bibliotecas digitais podem compor esta infraestrutura/ecossistema educacional para apoiar na construção do conhecimento?
Paulo Albuquerque – A facilidade de acesso e o fato de não termos a limitação, como nas bibliotecas físicas, trouxeram um grande avanço para o aprendizado. Com a disponibilização do livro digital, o discente pode acessar o conteúdo a qualquer momento e de onde estiver.
MB – Hoje se aborda muito a importância da formação de um profissional que conheça e saiba utilizar suas competências e habilidades técnicas e, também, as socioemocionais – consideradas essenciais no aprendizado atual. Elas também são necessárias na Engenharia?
Paulo Albuquerque – As atuais DCNs (Diretrizes Curriculares Nacionais) das engenharias descrevem um novo perfil para o engenheiro, deixando de se preocupar com o conteudismo, mostrando a necessidade de uma formação por competências e preocupado com as questões sociais e de relacionamento social. Isso é muito importante, pois o mercado está focado não só no engenheiro capacitado, mas também com as interrelações pessoais, além dele ser um profissional resiliente, flexível, comunicativo e que tenha um perfil de liderança.
MB – Qual sua mensagem para os professores que preparam estes profissionais para além dos muros das universidades?
Paulo Albuquerque – Acredito que quando vestimos a roupa de professor, não só devemos transmitir nosso conhecimento técnico, mas também nos posicionar como uma pessoa que poderá auxiliá-lo na construção de uma formação humanística e social. Precisamos ser compreensivos e entender que passamos por momentos bons e, também, por dificuldades. Além de tudo, devemos exaltar a afetividade e a empatia nessa relação aluno-professor.
*A opinião dos entrevistados não expressa, necessariamente, o posicionamento do Blog da Minha Biblioteca.
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