Orientador e Influenciador Digital: a face do novo docente

Em um mundo cada vez mais digital e de informações acessíveis, a dinâmica de ensino-aprendizado evoluiu. Diante desse cenário, os professores precisaram se adaptar nos papeis de mediadores e orientadores da aprendizagem. Mas, além disso, profissionais hábeis na utilização das ferramentas tecnológicas. 

Uma prática inovadora dos docentes é o uso estratégico e intenso das redes sociais, com suas turmas e além delas. Mais do que entreter, essas redes podem ser ferramentas de interação, essenciais para estimular o pensamento crítico e o conhecimento.  

Para exemplificar a utilização assertiva das plataformas digitais, o Blog da Minha Biblioteca conversou com o Prof. Pedro Lenza, Mestre e Doutor pela USP, “Visiting Scholar” pela Boston College Law School, Professor, Advogado e Autor do “Best Seller” Direito Constitucional Esquematizado e coordenador da Coleção Esquematizado® (Saraiva Educação / Selo Saraiva Jur). 

Além de ser considerado um dos maiores constitucionalistas do país, Lenza é um Professor Influenciador Digital, com milhares de seguidores nas redes sociais. Nessa entrevista exclusiva, ele avalia os atuais modelos de aprendizado, conta algumas ‘boas histórias’ e dá um conselho: “Temos que evoluir. Aquele que não evoluir vai ficar perdido no caminho. A nova geração nasceu nesse novo mundo”.

Vale a leitura.

MB – Como você enxerga o impacto da tecnologia na Educação?

Pedro Lenza – A tecnologia faz parte de todas as atividades do mundo moderno. Não se consegue deixar de lado os avanços tecnológicos no dia a dia e a mesma realidade acontece na Educação. A tecnologia, se bem empregada e de modo estratégico, potencializa os processos educacionais.

MB – Há uma corrente que defende que o papel do docente mudou, no sentido de que agora ele precisa facilitar o processo de aprendizagem dos estudantes, para que todo o conteúdo disponível na internet faça sentido. Passou a ser um curador de conteúdo. Você concorda? Como define a performance e responsabilidade do docente?

Pedro Lenza – Essa é a realidade do mundo moderno e não será diferente no futuro, muito pelo contrário. O volume de informações sobre um mesmo assunto é estrondoso. Então, de fato, o professor deve ser o curador desse “oceano de informações” e direcionar o aprendizado do discente. Mas isso não significa que o seu papel seja o de “facilitar” o aprendizado no sentido de não estimular a sua capacidade crítica. O estudante deixa de ser um mero espectador e passa a ser protagonista no complexo processo de aprendizagem.

MB – Quais as melhores ferramentas tecnológicas e digitais que podem ajudar o docente a enriquecer seus conteúdos, dentro e fora da sala de aula, e engajar os estudantes nas modalidades presencial, EaD e híbrida?

Pedro Lenza – O docente que usava o retroprojetor, por mais avançado que pudesse parecer naquele momento (apesar da crítica de alguns, inclusive dos alunos), nada mais era do que um professor a traduzir a realidade da época, ou seja, um informador que tinha uma audiência muito mais passiva do que protagonista. O atual modelo estimula um aprendizado com uma participação mais ativa do aluno, que agrega e contribui com o processo de conhecimento.

Como exemplo, podemos destacar algumas ferramentas:

Ambientes Virtuais Imersivos: hoje é possível que o estudante esteja dentro de um ambiente virtual, vivenciando uma experiência de aprendizado.  Que navegue por um museu que tenha elementos importantes para o estudo da matéria, ou seja, não se está vendo apenas no livro físico, mas experimentando essa nova realidade (não é à toa que o Facebook aposta nesse novo contexto com o lançamento do Metaverso). 

No meu caso do Direito, para ilustrar, se estou ensinando as características da Constituição de 1988, posso reproduzir o discurso de Ulysses Guimarães, proferido na sessão de 5 de outubro de 1988, e analisar a sua frase marcante: “Traidor da Constituição é traidor da Pátria….”. Ou, para se ter um outro exemplo, se estou explicando sobre o princípio da isonomia, posso destacar importantes passagens da clássica obra de Rui Barbosa – “Oração aos Moços”. Rui Barbosa havia sido convidado para ser o paraninfo dos formandos da turma de 1920 da Faculdade de Direito do Largo São Francisco, onde havia se formado há 50 anos. Impossibilitado de comparecer por problemas de saúde, escreveu o discurso que foi lido em seu nome pelo professor Reinaldo Porchat, em 29 de março de 1921, por ocasião da sessão solene de formatura dos bacharelandos. Ou, ainda, posso discutir um voto proferido por um Ministro, em determinado julgamento da Suprema Corte, que estaria a significar uma mudança de entendimento sobre determinado tema. Quem sabe, no futuro, teremos como criar um mundo virtual onde os estudantes, usando a “realidade aumentada” e “virtual”, possam protagonizar uma situação específica do Direito ou da matéria do aprendizado. Eu, pessoalmente, não gosto de jogos, mas muitos já vivem isso, se encontram virtualmente no Roblox e Fortnite, para se ter um exemplo. Então, como deixar de considerar essa realidade no dia a dia do aprendizado?

Ferramentas de Trabalho Digital e de Experimentação: textos on-line, videoaulas, documentários, filmes, podcasts etc. podem ser utilizados como formas de potencialização do aprendizado. Os alunos poderão contribuir com a formação do conhecimento. Questões testam o conhecimento da matéria, com comentários dos discentes que irão ajudar na formação do conteúdo (como disse, o estudante deixa de ser um mero espectador). Gamificação surge como importante instrumento. Robótica e Inteligência artificial passam a ser as palavras do momento. Isso tudo permite uma melhor individualização do aprendizado, por mais complexas que sejam as etapas desse processo.

Plataformas e Ambientes Virtuais de Aprendizado: os estudantes poderão estar conectados uns com os outros e a matéria ser ministrada, mesmo que remotamente. Aliás, o estudo remoto, durante a pandemia, mostrou grandes vantagens ao permitir que o aluno, da sua casa ou qualquer ambiente, conseguisse aprender, havendo um encurtamento das distâncias e fazendo com que a presença física ou virtual acabasse, de uma maneira ou de outra, se misturando. A liberdade geográfica que se conquistou é, sem dúvida, uma das grandes virtudes desse novo tempo.

Ferramentas de Comunicação: aplicativos como WhatsApp, Telegram e as redes sociais aproximaram o aluno do professor, democratizando o ensino e encurtando as distâncias.

Dentro desse universo, a partir de 2017, passei a agregar conteúdo digital ao meu livro de Direito Constitucional. O estudante encontra ali questões de concurso, textos, videoaulas etc. Eu costumo dizer que o aluno está lendo o livro e, em algumas passagens, o professor Pedro Lenza sai do livro para explicar um ponto importante. É o que denominei “livro vivo®” e que, penso, uma realidade que não tem mais volta, apenas para se ter um desdobramento dessa nova visão.

Orientador e Influenciador Digital: a face do novo docente

 

MB – Seu perfil no Instagram @pedrolenza tem quase meio milhão de seguidores. É sua rede social mais ativa?  

Pedro Lenza – Sim, o Instagram é a minha rede social mais ativa e essa escolha não é apenas minha. Durante muito tempo, o Periscope foi a minha rede mais efetiva. Quantas vezes me lembro de abrir uma live sem avisar e estarem ali, comigo, mais de 10.000 pessoas conectadas ao mesmo tempo. Com a sua queda de popularidade, percebi que o Instagram ganhava força e, muito embora não seja a rede com maior número de usuário no Brasil e no mundo, ela é, sem dúvida, a que traz maior resultado e engajamento. Assim, eu procuro me adaptar à necessidade do meu público. De fato, quase meio milhão de seguidores, uma audiência orgânica e que está interessada em informações sobre o dia a dia do Direito, sobre as decisões do STF, os atos do Parlamento, do Executivo e tudo o que possa estar ligado ao Direito Constitucional.

Duas vezes por semana ministro aulas de Direito Constitucional para milhares de pessoas em todo o Brasil. Eu entro, ao vivo, no Youtube e ensino a matéria. Quem puder estar on-line comigo recebe um conteúdo de alta qualidade e gratuito. Ao final, eles retiram o vídeo do ar e colocam na plataforma do curso. Mas, durante a gravação, todos podem participar em um processo extraordinário de democratização do ensino!

MB – Como você planeja os conteúdos para as redes sociais e o que faz mais sucesso, tem mais engajamento? 

Pedro Lenza – O conteúdo das minhas postagens está relacionado aos temas do momento. O STF tem sessões plenárias toda a semana e está sendo observado por milhares de pessoas. Procuro explicar as decisões, sempre de maneira técnica, isenta, sem tomar partido e trazendo críticas (técnicas) quando necessárias. Também tento esclarecer eventuais atos do Executivo com suas consequências, bem como do Legislativo.

Para tanto, realizo postagens com textos (muitos, inclusive, longos e densos) e lives sobre temas atuais. Certamente, o professor convidado enriquece o evento com a sua expertise e isso – trazer professores extraordinários para uma conversa – só é possível graças ao uso da tecnologia.

“A Biblioteca Digital, sem dúvida, mostra-se fundamental na modalidade EAD e será uma impressionante realidade no Direito e demais carreiras

MB – Qual conselho você daria ao docente que quer começar nas redes sociais? 

Pedro Lenza – Seja transparente, sincero, respeite seu seguidor, traga conteúdo, enfim, seja verdadeiro. Não é necessária uma superprodução. A sua audiência quer você.

Eu me lembro uma vez que estava andando na neve (estou como Visiting Scholar em uma Universidade nos EUA e, portanto, a neve é algo novo em minha vida) e resolvi abrir uma live para falar sobre um tema que havia acabado de ser decidido pela Suprema Corte. Sentei-me, então, em um banco e comecei a conversar com os meus seguidores. O sucesso foi imediato! A experiência me marcou e, também, a milhares de pessoas.

Outro dia, às 2 da manhã, entrei ao vivo, sem avisar, e centenas de alunos ali estavam para discutir um tema importante, em evidência no momento.

Ou seja, comece! Não espere uma situação ideal. Quando mais natural e real, maior o resultado. O seu seguidor se sente uma pessoa próxima e, sem dúvida, nós professores também sentimos que estamos com eles há muitos anos e que, sem dúvida, fazem parte de nossas vidas.

MB – Há uma estratégia mais criativa para utilizar essas plataformas digitais e estimular os alunos à leitura e aprendizagem? 

Pedro Lenza – Não existe uma fórmula. A todo momento estamos testando novas estratégias. Eu me lembro de ter aberto uma live no Telegram, quando foi lançado. Não conhecia nada sobre a ferramenta naquela rede. Juntos, com os alunos, fomos testando e vendo como poderíamos tirar um melhor proveito da nova rede social.

MB – Falando sobre leitura, temos a biblioteca digital que é vista como uma ferramenta de estímulo ao estudo para os universitários e concurseiros. Quais são, em sua visão, os benefícios desse tipo de plataforma?

Pedro Lenza – A biblioteca digital é mais uma ferramenta nesse processo de aprendizagem. O estudante, de onde estiver, consegue consultar um livro no seu computador ou smartphone e, a partir do momento que as Universidades têm a opção do acervo digital, isso democratiza o ensino e permite que todos estejam com livros atualizados e com as melhores obras do mercado.

A Biblioteca Digital, sem dúvida, mostra-se fundamental na modalidade EAD e será uma impressionante realidade no Direito e demais carreiras.

MB – Ainda existem docentes avessos ao uso das tecnologias e canais sociais, especialmente na área do Direito, considerada mais conservadora. O que acha que motiva este comportamento?

Pedro Lenza – Essa resistência é, de fato, percebida, mas talvez por falta de conhecimento sobre a importância das novas tecnologias. As instituições devem treinar os seus professores para o seu adequado uso. Não basta disponibilizá-las. É fundamental que os recursos sejam usados com uma nova mentalidade.

MB – Com o uso mais intenso das redes sociais, podemos dizer que a relevância do professor hoje vai além da sala de aula?  O “Professor Influenciador ou Inspirador Digital” é um perfil necessário?

Pedro Lenza – Sem dúvida, o professor hoje extrapola os limites físicos da sala de aula. Ele está na casa do aluno, está com ele na fila do banco, no transporte público, almoça com ele durante uma aula ou uma live, está com ele na academia ou antes de dormir. 

Outro dia eu estava com o meu primo na praia, na cidade de Santos, à noite, e percebi que ele não parava de olhar o celular e perguntei: “Igor, o que você está olhando tanto para o celular? (isso enquanto os meus filhos corriam, gritavam e se divertiam). Ele respondeu: estou assistindo aula da Faculdade, pois ainda estamos online”. Aquilo foi marcante para mim!

Uma outra história (que o meu seguidor diz ser real), aconteceu dentro de um ônibus. Ele assistia a uma importante live minha sobre um tema que havia estourado: a discussão sobre o impeachment. Assistia ao vídeo dentro do ônibus. De repente, percebeu que acontecia um assalto e que iria perder o seu celular. Para sua surpresa, a pessoa que realizava o assalto, segundo ele afirma, desistiu do ato e passou a assistir à live junto, em razão da importância do assunto de grande repercussão. Como já comentei, não sei se é verdade, mas a pessoa afirma que, de fato, isso aconteceu! Veja a que ponto podemos chegar!

MB – O que esperar para o futuro, quando se pensa em ensino-aprendizagem, tecnologia e postura do docente?

Pedro Lenza – Temos que evoluir. Aquele que não evoluir e acompanhar vai ficar perdido no caminho. A nova geração nasceu nesse novo mundo. A pandemia acelerou o processo e é essencial nos adaptarmos.

Por mais preocupante que isso tudo possa parecer, é preciso ver o lado positivo desse novo momento e tirar o máximo de proveito das novas tecnologias. A maioria das pessoas no mundo tem um smartphone e, assim, carregam em suas mãos uma poderosa “arma” para o aprendizado.

Na minha época de escola, lembro de pedir para a professora esperar mais um pouquinho para que eu pudesse copiar a lousa. Desesperado, olhava suplicando e balançava as mãos que doíam de tanto copiar. Hoje, em apenas 1 segundo, meu aluno tira uma foto com o celular ou um print da tela de seu aplicativo.

Esse é apenas um exemplo, no sentido de que não conseguiremos parar esse processo. Temos que nos adaptar e aproveitar o máximo das ferramentas.

Sentimos falta de desacelerar, daquele mundo em que felicidade era empinar pipa na rua, jogar “taco”, o carrinho de rolimã, fazer fogueira etc. Contudo, hoje o indivíduo, antes de sair de casa, checa se está levando o seu celular e a ausência dele causa grandes “dificuldades” para aquele dia de um “imperdoável” esquecimento. O celular está com cada um antes de dormir e quando acordamos. Essa é a realidade. 

Então, que usemos isso para ajudar a transformar a vida das pessoas. Que usemos essa realidade ao nosso favor e que isso tudo possa agregar conhecimento no processo de aprendizagem.

Aliás, essa é a minha missão de vida nesses mais de 25 anos. Transformar a vida das pessoas pela Educação, realizando sonhos e democratizando o ensino!

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