Em um universo acadêmico cada vez mais dinâmico, pelos avanços tecnológicos na Educação e metodologias de ensino-aprendizagem, os bibliotecários tiveram que mudar o seu mindset, ao mesmo tempo que conquistaram maior reconhecimento pelo importante papel que desempenham dentro das IES (Instituição de Educação Superior), como curadores e disseminadores da informação para todos os elos da comunidade universitária.
A busca deste aperfeiçoamento passa não apenas por boas práticas no uso das ferramentas digitais, mas inclui neste novo escopo de trabalho, a atualização relativa às Resoluções do CFB – Conselho Federal de Biblioteconomia, importantes instrumentos para orientar uma atuação eficaz em momentos decisivos, como base, diretriz e normativa ao bibliotecário e para as avaliações do MEC.
Neste cenário, duas resoluções de 2021 podem ser destacadas: a RES 240, de 30 de junho, que dispõe sobre os parâmetros para a estruturação e o funcionamento das bibliotecas digitais, e a RES 246, de 30 de novembro, que tem como foco as bibliotecas universitárias.
Para uma conversa com o BLOG da Minha Biblioteca, convidamos Michele Marques Baptista. A Coordenadora Administrativa do Sistema de Bibliotecas e Arquivo Central e professora no curso de Biblioteconomia da UCS (Universidade Caxias do SUL) traça um panorama das novas exigências, habilidades e qualificações deste profissional, alertando que é essencial planejar a rotina de trabalho e ter uma equipe que possa contar. “Muitas vezes, como gestor, ele terá que liderar este grupo e não somente realizar atividades técnicas”, analisa.
MB – Quais os principais obstáculos e caminhos que os bibliotecários têm encontrado, pensando neste novo dia a dia?
Michele M. Baptista – Não vejo como obstáculos, mas sim, muitas vezes, como falta de conhecimento. Durante seu processo de formação, o futuro bibliotecário precisa ter ciência de seus Conselhos (Federal e Regional), bem como estar informado sobre as resoluções de âmbito da profissão, tanto em questões éticas, quanto técnicas. É necessário que saiba qual a importância daquela resolução e seus efeitos. Por exemplo, a Resolução CFB nº 184/2017 – “Ficha Catalográfica deve ter CRB do Bibliotecário”, quando foi emitida, gerou dúvidas quanto aos sistemas automáticos de geração de fichas, pois alguns não apresentavam o nome e CRB do bibliotecário, mas era uma forma de agilizar o processo de confecção de ficha catalográfica. Até hoje encontro alguns sistemas on-line disponíveis, que ainda procedem desta forma. Além do CFB fiscalizar, o bibliotecário também deve se informar quando algo não está de acordo com alguma resolução.
MB – Como os bibliotecários buscam colocar, na prática, as Resoluções do CFB?
Michele M. Baptista – Acredito que, no momento que uma resolução é divulgada, ela servirá como base, diretriz e normativa ao profissional bibliotecário. Cada uma possui sua particularidade, definida e aprovada pelo CFB. Caberá ao profissional bibliotecário estar atento às definições e o que apresentam, para colocar em prática o que está sendo orientado. Também é papel do CFB fiscalizar se tal resolução está sendo cumprida.
MB – Em novembro foi publicada a Resolução 246. Se fizer um comparativo, o que que mudou em relação à Resolução 240. Quais pontos são os mais positivos ou não, pensando na jornada do bibliotecário?
Michele M. Baptista – Comparando as duas resoluções, percebo que a mudança está na distinção entre biblioteca digital e biblioteca universitária, com suas principais atribuições. A Resolução 246, que enfatiza a biblioteca universitária, deixa claro qual o papel da biblioteca e seus critérios. As atividades citadas estão bem especificadas, quanto a acervo, serviços e planejamento. Como ponto positivo, para o bibliotecário que trabalha em biblioteca universitária, esta Resolução é fundamental para saber quais os objetivos e competências da biblioteca. Já a Resolução 240 aborda a estruturação e funcionamento de bibliotecas digitais, também citando as principais atividades relacionadas. Acredito que a alteração está na definição de cada Resolução e na abrangência de cada uma. Ambas colocam a importância do papel do bibliotecário na gestão, e isso é ótimo!
MB – Especificamente, em relação à Resolução 240, em particular o artigo 3, o que pode destacar sobre as responsabilidades dos bibliotecários e quais são as principais dificuldades?
Michele M. Baptista – As responsabilidades do bibliotecário, quanto aos serviços desenvolvidos no âmbito das bibliotecas digitais, no artigo 3 da Resolução, estão bem definidas, mas as principais dificuldades ou desafios são colocar em prática tais serviços, quando se trabalha sozinho ou com uma equipe reduzida. O bibliotecário é posicionado, conforme a própria Resolução, como o gestor da biblioteca digital. Mas, entre as várias atividades citadas no artigo, para serem colocadas em prática, dependerá do seu conhecimento sobre gestão de sistemas informacionais e gerenciamento de banco de dados. E, neste contexto, é possível verificar que o bibliotecário precisará ampliar seu aprendizado em diferentes áreas.
MB – Estas Resoluções são as principais ferramentas para orientar os bibliotecários nas avaliações do MEC? Como é este preparo na UCS? Há um cronograma de treinamentos geral ou para cada avaliação?
Michele M. Baptista – As Resoluções não são somente as principais ferramentas para orientação, quanto às avaliações do MEC. Elas servem como diretriz que conduz e auxilia. As avaliações dependerão muito da biblioteca e da missão da instituição, pois seguem os critérios descritos no próprio instrumento de avaliação do MEC/INEP. Na UCS seguimos esses critérios também. Não temos um cronograma geral de treinamento definido, pois trabalhamos com vários campi e cada avaliação trata de uma determinada área de conhecimento. Também temos que levar em conta o tipo de avaliação: reconhecimento, autorização.
MB – Como estas tarefas se enquadram na rotina do bibliotecário: divulgação, integração, gerenciamento, monitoramento uso e atualização dos acervos digitais, catalogação bibliográfica, metadados, classificação e indexação? Quais os pontos que merecem mais atenção?
Michele M. Baptista – O bibliotecário precisa planejar sua rotina de trabalho e o ideal é ter uma equipe que possa contar. Muitas vezes, como gestor, ele terá que liderar este grupo e não somente realizar atividades técnicas. Por isso, a importância de uma definição de rotinas e todos estarem preparados para realizar outras ações também, assim como fazemos na UCS. Somos um “time” de seis bibliotecários. Eu sou a gestora, mas cada um tem suas tarefas e atribuições. Assim conseguimos, de alguma forma, desenvolver as rotinas de trabalho.
“A Minha Biblioteca possui ótimos recursos de pesquisa e um acervo amplo e atualizado constantemente, além de desenvolver capacitações on-line, o que ajuda muito o bibliotecário na questão de divulgação, pois conforme o tempo, não consegue alcançar todos os usuários da instituição”.
MB – Quais as melhores práticas e os cuidados para a integração dos acervos físico e virtual? Na UCS há um projeto ou ações diferenciadas nesta área?
Michele M. Baptista – As melhores práticas incluem sempre verificar a questão do custo/benefício dos acervos. O acervo físico requer mais cuidados e o custo é mais elevado, se comparado à biblioteca digital, tanto em espaço físico quanto ao valor comercial do livro. O usuário pode retirar somente um título no acervo físico. Na biblioteca digital, o acesso ao mesmo título acontece de forma simultânea. Não podemos esquecer jamais do valor histórico do acervo físico, já que as plataformas fornecem acesso às edições mais atualizadas. Na UCS fazemos capacitações aos usuários apresentando a busca no catálogo da biblioteca e os diversos tipos de acervo que temos, tanto físico como digital.
MB – Como você avalia o trabalho do bibliotecário, no suporte para o engajamento das facilidades tecnológicas oferecidas pelas bibliotecas virtuais, tanto para estudantes como para docentes? E a Minha Biblioteca neste contexto?
Michele M. Baptista – O bibliotecário tem a função de “disseminar a informação” aos docentes e NDE (Núcleo Docente Estruturante), com os lançamentos e novas edições, para garantir que todos estejam atualizados, junto ao processo de ementas e indicações bibliográficas, além de apresentar o diferencial de sua biblioteca (acervo, serviços, infraestrutura etc.). Essas tarefas devem ser realizadas por meio de capacitações ou canais de comunicação. A Minha Biblioteca, como uma das maiores plataformas de e-books digitais atualmente, possui ótimos recursos de pesquisa e um acervo amplo e atualizado constantemente, além de desenvolver capacitações on-line, o que ajuda muito o bibliotecário na questão de divulgação, pois conforme o tempo/demanda, não consegue alcançar todos os usuários da instituição.
MB – Quais estratégias precisam ser aprimoradas para fortalecer as bibliotecas digitais como centros de aprendizagem, com a virtualização do ensino?
Michele M. Baptista – As bibliotecas digitais precisam cada vez mais desenvolver habilidades cognitivas e de leitura, inovando sempre como referencial de plataforma. É essencial promover a informação de forma ágil e segura, fornecer um acervo atualizado, multidisciplinar e que condiz com a necessidade de cada curso, além de despertar o interesse do leitor.
MB – O papel do bibliotecário mudou nos últimos anos? Em quais as próximas tendências?
Michele M. Baptista – Sim e continuará mudando, de acordo com o avanço tecnológico e curricularização dos cursos. Novas ferramentas de organização e disseminação da informação vão fazer com que o bibliotecário seja aquele profissional com uma postura mais inovadora ou até mesmo empreendedora. Que não olhe somente para o espaço físico das bibliotecas, mas tenha uma visão mais ampla e consiga trabalhar com vários suportes informacionais, não perdendo o propósito social e cultural. Neste cenário, o usuário será ainda mais o foco para o seu trabalho de disseminador.
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